EDITORIAL
A cirurgia bariátrica em nova fase no Brasil
The new phase of bariatric surgery in Brazil
Almino Cardoso RamosI; Ivan CecconelloII; Osvaldo MalafaiaIII
IPresidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
IIPresidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva
IIIEditor-Chefe do ABCD
A cirurgia bariátrica, em sua maior parte, teve desenvolvimento fora dos meios acadêmicos em quase todas as partes do mundo em que é utilizada. As razões são diversas e fogem ao escopo desse editorial. No Brasil não foi diferente. Anos se passaram com esse aspecto, mas a realidade está mudando. E o que foi que mudou?
Houve compreensão da comunidade que atua na área de que somente são válidos os meios e métodos que sejam aplicados com metodologia adequada respaldada por evidências. Desde os remotos tempos de René Descartes, no início do século XVII, sabe-se que não é a impressão, mas sim, a comprovação que nos leva adiante. Uma vez utilizada, a validação dos resultados científicos pode ser divulgada e ser aceita pela comunidade geral e acadêmica como possível verdade científica.
A SBCMB com foco nesse mister, solicitou ao ABCD apoio para engrandecimento científico da cirurgia bariátrica no nosso país. É um grande desafio, pois fazer nossos cirurgiões escreverem..., não é tarefa fácil!
Quando se fala em pesquisa, de um modo geral, logo se pensa em laboratórios com bancadas, animais de experimentação, dedicação de tempo, instrumentos e equipamentos complexos que afugentam os que exercem a cirurgia. Dizem os cirurgiões que não conseguem fazer pesquisa porque estão no centro cirúrgico, não raramente, por horas a fio. Justificam assim a falta de tempo livre para pensar, criar e colocar suas idéias em texto organizado.
Tudo certo, este raciocínio parece estar correto.
Contudo, existe erro de ótica. O que é um laboratório cirúrgico? Pela comparação, ele deve ser cheio de bancadas, mesas, instrumentos com engenharia de ponta. Ele já existe e chama-se: "sala de operações". Por centro de pesquisas entende-se ser fisicamente grande, adequado em espaço, tecnologia e recursos humanos diferenciados com estrutura organizacional e operativa de grande envergadura. Ele já existe e chama-se "centro cirúrgico"!
Então, o que é que precisamos para produzir mais e melhor?
É ter esse entendimento: nosso laboratório é a sala de operações que trabalhamos; nosso centro de pesquisa é o centro cirúrgico que nos recebe; a evolução pós-operatória é nossa enfermaria e ambulatório.
Então o que falta para produzir mais e melhor ciência aplicada? É somente mudar nosso modo de pensar, tanto da parte do profissional como da instituição hospitalar e ser realizada, por outrém, coleta organizada, protocolada e gerenciada para fins acadêmicos. Não precisa o médico assistente realizá-la. Ele precisa, sim, saber o que procurar em seu trabalho e o resto deixar correr como rotina a ser pesquisa em futuro. O cirurgião não muda em nada sua atitude e horas de trabalho. Com isso, ou seja, com a coleta automática dos dados de seu dia-a-dia produzirá dados confiáveis que se acumularão progressiva e prospectivamente, não deixando ir para o ralo as informações que possui e que tanto trabalhou para acontecerem. Mas, se não publicar, ficam elas perdidas e sem valor. Esta sistematização de registro de dados possibilitará melhor acompanhamento dos pacientes, facilitará levantamento de informações para publicação e também permitirá a comparação de resultados entre os diferentes centros identificando a eventual necessidade de correção de metodologia.
Porquê não mudar nossas cabeças? Porquê não divulgar aquilo que nossa experiência entendeu ser melhor para cada paciente? Porquê não maximizar o esforço e o tempo despendidos? Porquê deixar passar a contribuição médica que temos comprovada pelo exercício da profissão?
O Brasil precisa repensar os meios de como conseguir esse mister.
O Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica estão ajudando grandemente nossos associados e os cirurgiões brasileiros em geral a conseguirem os meios de publicação. Conseguiram, em parceria, ofertar veículo de qualidade e de visibilidade internacional - que é o ABCD - para difusão de seus conhecimentos. O meio existe. Agora precisamos focar a produção de trabalhos com qualidade, produção esta que já é existente e, às vezes, não percebemos. Temos que cumprir nossa responsabilidade de ser a segunda sociedade de cirurgia bariátrica do mundo.
Não nos esqueçamos:
"Nosso laboratório é nossa sala de operações"! e
"Nosso centro de pesquisas é nosso centro cirúrgico"!
Querem melhor ambiente para pesquisa? Certamente não. O que precisamos é mudar nosso modo de pensar e começar a agir para arrumarmos meios eletrônicos que contabilizem de modo prospectivo a atividade cirúrgica que exercemos.
Vamos pensar juntos! Vamos mostrar mais nossos resultados! Vamos escrever mais!
Assim no futuro, melhoraremos o brilhante cenário que hoje se inicia com este Suplemento, exclusivo da Cirurgia Bariátrica e Metabólica homenageando o Congresso de Brasília. Neste número se demonstra a seriedade e a criatividade do cirurgião brasileiro que, continuando dessa forma, aumentará em breve o respeito da comunidade de nosso País e a internacional com a cirurgia bariátrica brasileira.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
24 Jan 2014 -
Data do Fascículo
2013