Resumo
Antecedentes A epilepsia é uma doença neurológica que afeta povos do mundo todo, mas raramente é descrita em povos indígenas.
Objetivos Estudar as características da epilepsia e os fatores de risco para o controle das crises em pessoas de uma população indígena isolada.
Métodos Este é um estudo de coorte retrospectivo e histórico, conduzido de 2003 a 2018 (15 anos) no ambulatório de neurologia, de 25 indígenas Waiwai com epilepsia, habitantes de uma reserva florestal na Amazônia. Aspectos clínicos, antecedentes, comorbidades, exames, tratamento e resposta foram estudados. Identificou-se os fatores que afetaram o controle das crises ao longo de 24 meses usando curvas de Kaplan-Meier e modelos de regressão de Cox e Weibull.
Resultados A maioria dos casos teve início na infância, sem diferença quanto ao gênero. Predominavam as epilepsias focais. A maioria dos pacientes apresentava crises tônico-clônicas. Um quarto deles tinha história familiar e 20% referiram convulsões febris. Vinte por cento dos pacientes apresentava deficiência intelectual. Um terço tinha exame neurológico e desenvolvimento psicomotor alterados. O tratamento controlou 72% dos pacientes (monoterapia em 64%). Fenobarbital foi o medicamento mais prescrito, seguido por carbamazepina e valproate, e os fatores que mais impactaram o controle das crises ao longo do tempo foram exame neurológico anormal e história familiar.
Conclusão História familiar e exame neurológico anormal foram fatores de risco preditores para epilepsia refratária. Mesmo em uma tribo indígena isolada, a parceria entre os indígenas e a equipe multidisciplinar garantiu a adesão ao tratamento. O sistema público de saúde deve garantir medicamentos modernos anticrise, principalmente para essa população vulnerável, que não tem outra fonte de tratamento.
Palavras-chave Epilepsia; Convulsões; Povos Indígenas; Ecossistema Amazônico