Este estudo analisa o processo saúde-doença da boca sob o conceito de "bucalidade", como proposto por Botazzo¹. São apresentados limites da odontologia, afirmando sua insuficiência para discutir a saúde bucal a partir da relação da boca com a sociedade. Por meio do conceito de disciplina como produtora de corpos úteis e dóceis, proposto por Foucault, introduz-se a questão da autonomia do indivíduo na sociedade do trabalho. Caracteriza-se um processo de disciplinarização dos corpos para uma adequação ao capitalismo. Em um segundo momento, constitui-se um recorte específico: a disciplinarização da boca, e a odontologia como instrumento de disciplinarização. A odontologia colaborando na produção de bocas funcionalmente úteis, mas politicamente dóceis, disciplinadas. A boca como área de atuação específica de um campo do saber e de mercado. Boca vigiada, controlada e esquadrinhada. A boca é disciplinada e seus prazeres são tolhidos. E as repressões sobre a boca não teriam conseqüências sobre a sua saúde? Este processo utilizou-se da odontologia como legitimadora da disciplinarização da boca, que passa a ser alienada, isolada e discriminada. Finalmente, propôs-se a "bucalidade" como alternativa para uma nova compreensão da boca e da saúde bucal e, quem sabe, do próprio objeto da odontologia.
Bucalidade; Saúde coletiva; Disciplinarização