Há evidências científicas de que o meio ambiente de trabalho de marisqueiras e pescadores artesanais de Ilha de Maré está quimicamente contaminado, inclusive com risco toxicológico e carcinogênico para a saúde humana15. O início de toda a impactação antrópica da BTS tem origem no século XVI, com a construção da primeira capital do Brasil, Salvador, mediante a implantação em larga escala dos engenhos de açúcar de cana e da construção de diversos navios e portos15,25. Contudo, é na metade do século XX que se dá uma verdadeira aceleração do processo de degradação ambiental, quando a região da BTS passa por um ciclo de auge, devido a Petrobras ter escolhido a BTS para sistematizar as suas pesquisas e explorar petróleo, ocasionando um período importante de transformação econômica, social e cultural15,25. |
O maior processo de industrialização se dá com a implantação do CIA na Baía de Aratu, já no final da década de 60 e a formação do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC), no final da década de 70. Desde este período mais de 200 indústrias, entre químicas, metalúrgicas, siderúrgicas, mecânicas, farmacêuticas e alimentícias, se instalaram somente no CIA. Ademais, essa geração maciça de atividades industriais levou ao crescimento das atividades nos portos de Salvador e de Aratu com a implantação de terminais que objetivavam garantir o escoamento da produção industrial e com isso propiciar o crescimento da CIA e COPEC15. |
A Empresa Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda. pertencente ao Grupo Trevo, apesar de desativada desde 1993 é considerada por Carvalho et al.26 como uma importante fonte de contaminantes para a BTS, já que por mais de 30 anos escoou metais, principalmente o Cádmio, Chumbo e Zinco, diretamente no rio Subaé e emitiu durante esse mesmo período material particulado no ar da região de Santo Amaro, estado da Bahia. De acordo com relatório do CRA do ano de 200427, outra fonte importante de contaminação por metais, especialmente o Mercúrio, foi a Companhia Química do Recôncavo, que operou às margens da Baía de Itapagipe e atualmente funciona no Polo Petroquímico. Estima-se que a planta de cloro-álcali desta indústria despejou entre 2 a 4 Kg diários de cloreto de mercúrio nas águas de Itapagipe, durante seus doze anos de operação. Nesse sentido, vale ressaltar, houve derramamento de 48.000 litros de petróleo bruto em 1992 na BTS28 e recentemente o vazamento de aproximadamente 2.500 litros de óleo na BTS, ocorrido em abril de 2009, largamente noticiado pela imprensa nacional. |
Para o CRA29 houve violação da legislação brasileira e internacional para todo o conjunto de metais analisados pelo órgão (Cobre, Zinco, Chumbo, Cádmio, Arsênio e Mercúrio). Nos mariscos a contaminação química decorre principalmente do Cobre, Zinco e Cádmio, já para os peixes foram encontradas elevadas concentrações de Arsênio e Mercúrio. O Órgão29, ao avaliar os teores de metais em peixes, como a tainha, a arraia, o coró, a sardinha e o linguado, evidenciou que 8 das 12 localidades amostradas apresentaram peixes com teores de Mercúrio muito acima do permitido pela legislação. |
O rio Subaé e a área adjacente à sua desembocadura na BTS, a Baía de Aratu, o Porto de Aratu, que estão próximos a Ilha de Maré, bem como as áreas adjacentes a Mataripe e Caboto, são os locais mais críticos em termos de contaminação da biota. Dentre as espécies que apresentaram o maior número de violações estão a arraia, o coró, e os moluscos pé-de-galinha, ostra e chumbinho. Sendo que a ostra e o pé-de-galinha foram espécies que mais apresentaram bioacumulação de metais29. Destarte, de acordo com o CRA29 concentrações de metais traço encontradas em ostra, chumbinho, sururu e peixes, animais marinhos amplamente consumidos pelas comunidades da BTS, ultrapassaram os limites preconizados pela legislação brasileira (ANVISA). Não obstante, tendo o órgão realizado avaliação preliminar de risco à saúde humana, constatou que existe a possibilidade de que a ingestão de pescados contaminados, coletados em algumas regiões da BTS, possam implicar em potenciais problemas para a saúde29. |
Numa produção de Pereira et al.30destaca-se a avaliação deste quanto às concentrações de Ferro, Manganês, Cobre e Zinco associadas ao material particulado atmosférico na Estação de Transbordo da Lapa, no Porto de Aratu e na Comunidade de Bananeiras, localizada na Ilha de Maré, esta localizada próxima ao Porto de Aratu. Conforme Pereira et al.30 Bananeiras apresentou médias de partículas totais em suspensão no ar (36,1m-3) menor que o Porto de Aratu (169-182 m-3), mas ainda acima dos valores permitidos pelos padrões brasileiros. No que se refere ao elemento químico Zinco, este se apresentou como o mais abundante, manifestando em Bananeiras uma concentração média de 145 ng m-3, durante o período estudado, muito maior que a determinada no Porto de Aratu (4ng m-3)30. |
Em 2008, o CRA31 efetuou um levantamento das atividades antrópicas com potencial de contaminação para a BTS. O referido estudo verificou que as aproximadamente 58 indústrias localizadas a nordeste, noroeste e norte da BTS desenvolvem atividades químicas, petroquímicas, metalúrgicas, siderúrgicas, de produtos alimentícios e fertilizantes, que geram diversos produtos compostos eminentemente por metais como Ferro, Mercúrio, Zinco, Cobre e Manganês, além de ácidos minerais, sulfetos e sulfatos metálicos, óleos vegetais, petróleo e seus derivados, soda, naftaleno, benzeno, fenol, polipropileno, cloro, hexano, óxidos, celulose, sisal, brita, amônia e muitos outros. |
Consoante Hatje et al.15 e Souza e Hatje32 quanto à avaliação preliminar de risco realizada pelo CRA29, os autores apontam a existência de risco toxicológico para a saúde humana. Entretanto, deve ser levado em conta o fato de que os mesmos estão baseados em simulações de cenários críticos de exposição, tendo em vista o propósito de proteger a população, pois seria preferível tratar o risco quando ele ainda é pouco expressivo evitando maiores danos para a saúde da população. |
Outra fonte de contaminação ambiental na BTS é a falta do esgotamento sanitário na Ilha dos Frades e na Ilha de Maré, dentre outras localidades, cujos efluentes de esgoto doméstico são lançados a céu aberto diretamente nos rios e mangues que desembocam na BTS31. |