Open-access Carta ao Editor: dúvidas e considerações sobre Síndrome CoronarianaRESPOSTA DOS AUTORES

Senhora Editora,

Escrevemos esta carta referente ao artigo: “Impacto da ansiedade e depressão na morbimortalidade de pacientes com síndrome coronariana”(1) para tecermos alguns comentários, a fim de esclarecermos dúvidas que a nós ficaram faltando responder. Desde já, deixamos claro que nossa intenção não é questionar o trabalho dos autores, até porque consideramo-nos iniciantes em pesquisa científica, mas julgamos ser este um momento de aprendizado, o qual nos possibilita questionar, opinar, debater entendendo que estamos colaborando para o enriquecimento do nosso aprendizado.

Na introdução, os autores colocam que não encontraram na literatura nacional, assuntos relacionados a esta temática. Intrigadas, resolvemos fazer uma rápida busca na literatura nacional e encontramos pelo menos três estudos relacionados a esta temática(2-4). De modo que, talvez nas buscas pela literatura nacional, os descritores tenham sido colocados de forma inapropriada. Sugerimos buscar através dos seguintes descritores: infarto agudo do miocárdio, depressão, qualidade de vida, fatores de risco, síndrome coronariana aguda(5).

No método (desenho, local do estudo e período), nos diz que o estudo é uma coorte retrospectiva, de um estudo anterior realizado em 2012. Quando procuramos a referência sobre este estudo prévio, não encontramos nenhuma no trabalho atual. A única referência encontrada, foi a de um estudo realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Mas o presente estudo foi realizado na Unidade Coronariana do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ficou um pouco confuso, qual o estudo prévio utilizado(6-7).

Dentro da amostra, também acreditamos que houve perda de segmento significativa (28%) para um estudo desta complexidade. Visto que, em outros estudos citados pelos autores, as amostras eram bem maiores. Inicialmente, o estudo prévio contava com 120 pacientes, após esta perda finalizou com 96 pacientes. Os próprios autores, concordaram em algum momento que a amostra deveria ser maior, visto que a significância estatística dos resultados pode ter sido comprometida(8-9).

Além disso, considera-se a idade um fator importante no prognóstico das doenças cardiovasculares, visto quanto maior a idade maior o número de eventos. Devido a isto, sugerimos que seja feita uma divisão por grupos de idade, isto traria uma maior contribuição para a proposta do estudo(10). No protocolo do estudo, a morbidade e a mortalidade, logo após a alta, um ano após e dois anos após foram verificados por meio de dados coletados do prontuário eletrônico dos pacientes. Quando não encontradas tais informações, foi realizado o contato telefônico. A dúvida é: quem respondeu as questões quando realizado o contato telefônico? (paciente, parente, amigo, cuidador...?) Quais tipos de perguntas foram realizadas? O primeiro estudo foi realizado em 2012, e o atual em 2016, não poderia haver dúvidas quanto as respostas dos pacientes, devido ao tempo decorrido, ao próprio estado de saúde, estado emocional?

O número baixo de pacientes com presença de sintomas moderados/graves de depressão e ansiedade, neste estudo, pode ser explicado pela média de idade deles. Uma vez que, adultos jovens acometidos por SCA relatam com maior frequência a presença de sentimentos como ansiedade e depressão comparados aos idosos(10).

Em relação ao tempo de acompanhamento, os autores citam estudos com seguimento de 10 anos ou mais(11-12). Diferente do presente estudo, com seguimento de 2 anos. Entende-se que um período maior de acompanhamento, aliado a uma avaliação objetiva e abrangente das readmissões e mortalidades relacionadas a doenças cardiovasculares poderiam contribuir para alcançar o objetivo proposto deste estudo.

Acreditamos ser este estudo muito relevante para a área da saúde. Como profissionais da área gostaríamos de receber o retorno dos autores às nossas dúvidas, e de que talvez eles pudessem ampliar este estudo, para termos dados mais robustos cientificamente. Desde já, agradecemos a oportunidade.

Referências bibliográficas

  • 1 Altino DM, Martins LAN, Gonçalves MAB, Barros ALBL, Lopes JL. Impact of anxiety and depression on morbidity and mortality of patients with coronary syndrome. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018;71(6):3048-53. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0709
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0709
  • 2 De Mattos MA, Lougon M, Tura BR, Pereira BB. Depressão e Síndrome Isquêmica Coronariana Aguda. Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Universidade Federal do Rio de Janeiro vol 18 nº 4 pg 288 2005
  • 3 Alves TCTF, Fráguas R, Wajngarten M. Depressão e infarto agudo do miocárdio. Rev Psiquiatr Clín. 2009;36(3):88-92 São Paulo. doi: 10.1590/S0101-60832009000900004
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  • 4 Lemos C, Gottschall CAM, Pellanda LC, Müller M. Associação entre depressão, ansiedade e qualidade de vida após infarto do miocárdio. Psic: Teor Pesq. 2008;24(4):471-6. doi: 10.1590/S0102-37722008000400010.
    » https://doi.org/10.1590/S0102-37722008000400010.
  • 5 Biblioteca virtual em saúde. Descritores em ciências da saúde [Internet]. 2020 [cited 2020 May 2]. Available from: www.decs.bvs.br
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  • 6 Lopes JL, Barbosa DA, Nogueira-Martins LA, Barros ALBL. Nursing guidance on bed baths to reduce anxiety. Rev Bras Enferm. 2015;68(3):437-43. doi: 10.1590/0034-7167.2015680317i
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  • 7 Meneghetti CC, Guidolin BL, Zimmermann PR, Sfoggia A. Screening for symptoms of anxiety and depression in patients admitted to a university hospital with acute coronary syndrome. Trends Psychiatry Psychother. 2017;39(1):12-8. doi: 10.1590/2237-6089-2016-0004
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  • 8 Lichtman JH, Froelicher ES, Blumenthal JA, Carney RM, Doering LV, Frasure-Smith N, et al. Depression as a risk factor for poor prognosis among patients with acute coronary syndrome: systematic review and recommendations: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2014;129(12):1350-69. doi: 10.1161/CIR.0000000000000019
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  • 9 Wrenn KC, Mostofsky E, Tofler GH, Muller JE, Mittleman MA. Anxiety, anger, and mortality risk among survivors of myocardial infarction. Am J Med. 2013;126(12):1107-13. doi: 10.1016/j.amjmed.2013.07.022
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  • 10 Bandelow B, Michaelis S. Epidemiologia dos transtornos de ansiedade no século XXI. Diálogos Clin Neurosci [Internet]. 2015 [cited 2017 Oct 10] 17(3):327-35. Available from: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/28479/30333/
    » https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/28479/30333/
  • 11 Meijer A, Conradi HJ, Bos EH, Thombs BD, van Melle JP, Jonge P. Associação prognóstica de depressão após infarto do miocárdio com mortalidade e eventos cardiovasculares: uma metanálise de 25 anos de pesquisa. Gen Hosp Psychiatry. 2011;33(3):203-16.
  • 12 Roest AM, Zuidersma M, Jonge P. Infarto do miocárdio e transtorno de ansiedade generalizada: acompanhamento de 10 anos. Ir. J Psiquiatria. 2012;200:324-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020
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