Open-access Complicações no pós-operatório tardio em pacientes cirúrgicos: revisão integrativa

RESUMO

Objetivo:  identificar as principais complicações ocorridas no pós-operatório tardio de pacientes cirúrgicos.

Método:  revisão integrativa a partir das bases CINAHL, LILACS, Science Direct, Web of Science, SCOPUS, Europe PMC e MEDLINE. Combinaram-se descritores e palavras-chave, sem restrição de idioma ou tempo.

Resultados:  dez estudos primários foram incluídos. As complicações infecciosas foram as mais comuns, com destaque para infecção do sitio cirúrgico, pneumonia e infecção urinária. A presença de complicações esteve ligada ao aumento na mortalidade, necessidade de reoperações e pior sobrevida. Poucos estudos relatam a frequência de monitoramento, tempo de seguimento e/ou quando as complicações começaram a serem observadas.

Conclusão:  as complicações infecciosas foram as mais prevalentes no pós-operatório. A escassez de diretrizes que guiem a vigilância das complicações no que concerne a frequência de monitoramento, tempo de seguimento e classificação dificulta estabelecer um panorama das mesmas e consequentemente propor estratégias de intervenção.

Descritores: Procedimentos Cirúrgicos Operatórios; Complicações; Complicações Pós-Operatórias; Vigilância Epidemiológica; Infecções

ABSTRACT

Objective:  to identify the main complications in the late postoperative period of surgical patients.

Method:  an integrative review from the CINAHL, LILACS, Science direct, Web of Science, SCOPUS, Europe PMC, and MEDLINE databases. Descriptors and keywords were combined without language or time restriction.

Results:  ten primary studies were included. Infectious complications were the most common, especially surgical site infection, pneumonia and urinary tract infection. The presence of complications was linked to increased mortality, need for reoperations and worse survival. Few studies report on monitoring frequency, follow-up time and/or when complications started to be observed.

Conclusion:  infectious complications were the most prevalent postoperatively. The scarcity of guidelines that guide the monitoring of complications regarding monitoring frequency, follow-up time and classification makes it difficult to establish an overview of them and consequently propose intervention strategies.

Descriptors: Operative Surgical Procedures; Complications; Postoperative Complications; Epidemiological Monitoring; Infections

RESUMEN

Objetivo:  identificar las principales complicaciones que ocurren en el postoperatorio tardío de los pacientes quirúrgicos.

Método:  revisión integradora de CINAHL, LILACS, Science Direct, Web of Science, SCOPUS, Europe PMC y MEDLINE. Descriptores y palabras clave fueron combinadas sin restricción de idioma o tiempo.

Resultados:  se incluyeron diez estudios primarios. Las complicaciones infecciosas fueron las más comunes, especialmente la infección del sitio quirúrgico, la neumonía y la infección del tracto urinario. La presencia de complicaciones se relacionó con un aumento de la mortalidad, la necesidad de reoperaciones y una peor supervivencia. Pocos estudios informan sobre la frecuencia de monitoreo, el tiempo de seguimiento y/o cuándo comenzaron a observarse complicaciones.

Conclusión:  las complicaciones infecciosas fueron las más frecuentes después de la operación. La escasez de pautas que guían la vigilancia de las complicaciones con respecto a la frecuencia de monitoreo, el tiempo de seguimiento y la clasificación hace que sea difícil establecer una visión general de las mismas y, en consecuencia, proponer estrategias de intervención,

Descriptores: Procedimientos Quirúrgicos Quirúrgicos; Complicaciones; Complicaciones Postoperatorias; Monitoreo Epidemiológica; Infecciones

INTRODUÇÃO

A ocorrência de complicações clínicas no pós-alta hospitalar indica uma mudança importante na recuperação do paciente cirúrgico, aumentando o risco de reoperação, o tempo de permanência, a diminuição da disposição de leitos e o aumento da mortalidade(1).

Não há consenso sobre a real incidência de complicações pós-operatórias, embora estimam-se taxas entre 5,8% e 43,5% nos primeiros 30 dias(2-7), com mortalidade geral variando entre 0,79% e 5,7%(2,4-5,8), relacionadas ao tipo de cirurgia e à gravidade da complicação. Além disso, associa-se com a presença de múltiplas complicações a um considerável aumento nas chances de mortalidade, cerca de 7,2 vezes(9).

Atualmente, o quantitativo de complicações cresce em velocidade proporcional aos procedimentos cirúrgicos. Em todo o mundo aproximadamente 234,2 milhões de procedimentos cirúrgicos são realizados anualmente, dos quais sete milhões sofrem complicações evitáveis, o que torna essa realidade um problema de saúde pública de considerável impacto(10).

Apenas nos Estados Unidos, anualmente, aproximadamente 20 milhões de pessoas são submetidas a procedimentos cirúrgicos(11). As previsões futuras mostram uma tendência exponencial de crescimento do setor cirúrgico, uma vez que o mercado mundial de procedimentos cirúrgicos está previsto para atingir 2,2 bilhões de procedimentos em 2022. A América do Norte é o mercado que mais cresce, porém a Ásia/Pacífico lidera devido à crescente incidência de doenças cardiovasculares e neurológicas, lesões traumáticas e introdução de tecnologias cirúrgicas avançadas na região. O mercado na América do Norte cresce rapidamente devido ao aumento do número de cirurgias cesariana, e elevada demanda por procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos. No que concerne ao volume de procedimentos, destacam-se as cirurgias ginecológicas, ortopédicas e plásticas(12).

No tocante ao Brasil, é complicado estimar a prevalência geral de intervenções cirúrgicas pela inexistência de dados sistematizados abordando tais procedimentos. No entanto, estudo recente(13), baseando-se em banco de dados do sistema nacional de saúde brasileiro, aponta que o volume cirúrgico no país foi de 4.433 procedimentos/100.000 pessoas em 2014. Nesse sentido, é de suma importância desenvolver estratégias de análise, manejo e monitoramento dos pacientes submetidos a essas cirurgias, sobretudo para identificação de complicações.

Nesse sentido, a mais importante limitação na notificação de complicações pós-operatórias é a inexistência de um sistema padronizado para classificar e caracterizar as complicações. Os estudos que exploraram esse objeto limitaram-se a descrever arbitrariamente as complicações como “grave”, “maior” ou “menor”, o que dificulta comparar resultados na literatura como um todo(2,9,14) e propor estratégias de intervenção. Acresce-se, ainda, a pouca especificidade de quais são as complicações comumente associadas às diferentes cirurgias, sendo necessário generalizar os achados extrapolando-os e desconsiderando características intrínsecas das diferentes especialidades cirúrgicas. Assim, é necessária uma melhor caracterização dessas complicações que contemplem as especificidades e os aspectos do monitoramento, como tempo de manifestação, intensidade, frequência de monitoramento, entre outros.

OBJETIVO

Identificar as principais complicações ocorridas no pós-operatório tardio de pacientes cirúrgicos.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Um dos principais recursos da prática baseada em evidências, técnica que permite resumir o passado da literatura empírica e fornecer uma compreensão abrangente de um fenômeno a ser estudado(15).

Para desenvolvimento da mesma, foram percorridas as etapas: estabelecimento da hipótese/questão norteadora; seleção das bases de dados a serem pesquisadas; definição dos critérios de inclusão e exclusão; busca nas bases de dados, análise dos estudos recuperados; interpretação dos resultados e apresentação da revisão ou síntese do conhecimento(15).

A pergunta de pesquisa foi norteada pela questão: “Quais as complicações mais frequentes no pós-operatório tardio de pacientes cirúrgicos?” obedecendo as especificações da estratégia PICOT (acrônimo para Paciente, Intervenção, Comparação, “Outcomes” (desfecho) e Tempo). Assim, definimos para P: paciente; I: cirurgia; O: complicação; e T: pós-operatório tardio. A Comparação não foi objeto deste estudo.

Adotamos como pós-operatório tardio o período compreendido após a alta do paciente da assistência hospitalar(9,16). É um período de “difícil determinação”, em que a diminuição da atenção ao paciente pode aumentar as chances de aparecimento de complicações(9,16-17).

Na busca dos artigos, optamos por utilizar bases de dados biomédicas internacionais e de ampla difusão(18), quais sejam: Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Science Direct, Web of Science, SCOPUS, Europe PMC e MEDLINE através do portal PubMed da National Library of Medicine.

Buscando recuperar o maior quantitativo possível de estudos primários, combinamos descritores controlados (termos obtidos no Medical Subject Headings (MeSH) e títulos extraídos do CINAHL ou Descritores em Ciências da Saúde ou DeCS), com palavras-chave da seguinte forma:

  • PubMed e Web of Science: Postoperative Complications AND surgical OR general surgical AND surgical procedures, operative OR surgical AND procedures AND operative OR operative surgical procedures OR surgical AND complications.

  • CINAHL e Embase: Postoperative Complications OR post-discharge complications AND surgical complications AND surgical OR general surgical AND surgical procedures, operative OR surgical AND procedures AND operative OR operative surgical procedures OR surgical AND complications AND post-hospital.

  • LILACS (em português, inglês e espanhol): “Complicações Pós-Operatórias” [Palavras] AND cirurgia [Palavras] AND Pós-alta [Palavras].

  • Scopus e Science Direct: Postoperative Complications AND surgical OR general surgical AND surgical procedures AND operative OR surgical AND procedures AND operative OR operative surgical procedures OR surgical AND complications.

  • Europe PMC: Postoperative Complications AND surgical AND surgical procedures AND surgical operative AND surgical Patient AND surgical complications.

Como critérios de inclusão, definimos: artigos primários ou originais(15,18) publicados sobre a temática em qualquer idioma, com resumo disponível e sem limite de tempo. A busca bibliográfica ocorreu concomitantemente nas sete bases de dados por dois pesquisadores com expertise no método e temática estudada, ao mesmo tempo, em locais diferentes, visando evitar viés na triagem dos artigos a serem analisados. Foram realizadas reuniões para discussão e consenso entre os pesquisadores acerca da inclusão ou exclusão dos estudos na pesquisa. Para quaisquer discordâncias que não pudessem ser resolvidas por consenso, um terceiro revisor foi acionado.

Excluímos pesquisas de revisão, opinião de especialistas, protocolos, cartas resposta e editoriais já na primeira busca. A análise para seleção das pesquisas foi realizada em três fases, a saber:

  1. Os manuscritos identificados nas bases de dados foram pré-selecionados segundo os critérios de inclusão, analisados por meio da leitura de seus títulos e resumos. Assim, o quantitativo de estudos recuperados por base de dados foi de 332 na PubMed, 355 na Web of Science, 96 na CINAHL, 30 na Embase, 09 na LILACS, 412 na Scopus, 331 na Science Direct e 315 na Europe PMC, resultando um total de 1.880 estudos primários.

  2. Na segunda fase, 372 estudos duplicados foram retirados e as pesquisas pré-selecionadas foram analisadas quanto ao potencial de participação, avaliando o atendimento a questão de pesquisa, o tipo de investigação desenvolvida, objetivos, materiais e método, principais resultados e conclusão. Nessa etapa, excluímos: pesquisas realizadas com pacientes não-cirúrgicos, que foram desenvolvidas com indivíduos com menos de 18 anos ou exclusivamente com mais de 85 anos e que abordaram apenas indivíduos no pós-operatório imediato, intraoperatório ou pré-operatório. Baseado nisto, esta etapa gerou 33 estudos primários, sendo excluídos 1847 estudos de acordo com os critérios dispostos no Quadro 1.

    Quadro 1
    Distribuição das justificativas para a exclusão de artigos e quantitativo correspondente de publicações desconsideradas

  3. A terceira fase consistiu na leitura integral dos 33 estudos primários, visando à coleta de dados específicos aos objetivos da revisão. Os estudos que não deixaram claro quais complicações avaliaram foram excluídos, resultando nos 10 estudos primários (EP) selecionados. Desses manuscritos, foram avaliados: questões bibliométricas (ano, base e idioma de publicação), delineamento metodológico, topografias cirúrgicas contempladas, frequência de monitoramento, tempo de seguimento e sistemática de avaliação da gravidade.

O fluxograma que levou à seleção dos 10 estudos primários encontra-se na Figura 1.

Figura 1
Fluxograma da seleção de publicações

RESULTADOS

Os EP incluídos estavam todos no idioma inglês (100%)(19-28). Não houve concentração em determinado ano, embora 40%(20,22-23,26) dos estudos tenham sido publicados recentemente (2013-2018). No que concerne à base de dados a PubMed hospedou 70% dos estudos(19-23,25,28).

Referente ao delineamento metodológico, predominaram estudos retrospectivos (50%)(20-21,23,26,28) baseados em dados secundários, recuperados dos prontuários dos pacientes. Uma série de topografias cirúrgicas foi contemplada, com destaque para cirurgias gerais, ortopédicas, torácicas, gastrointestinais e urinárias. De uma forma geral, os estudos selecionados buscaram identificar as principais complicações no pós-alta dos pacientes submetidos à cirurgia, relacionando esse achado a fatores de riscos, readmissões e mortalidade.

As complicações infecciosas foram as mais comuns em todos (100%)(19-28) os estudos, com destaque para infecção da ferida operatória/infecção do sítio cirúrgico (80%)(19,21-27), pneumonia e outras complicações do trato respiratório (60%)(19,21-22,24,26,29) e infecção urinária (20%)(23,27). Sangramento (60%)(19-20,22,24-25,28), deiscência (40%)(19,21,23-24) e outras complicações ligadas ao órgão/local operado também foram relatadas. A presença de complicações esteve ligada a aumento na mortalidade, necessidade de reoperações e pior sobrevida (Quadro 2).

Quadro 2
Síntese de artigos incluídos na revisão integrativa

Destacamos que poucos estudos (20,0%)(23-24) relataram a frequência de monitoramento, tempo de seguimento e/ou quando as complicações começaram a serem observadas (20%)(22,24). Quanto à sistemática de avaliação da gravidade das complicações, oito (80%)(21-28) dos estudos primários utilizaram o sistema de Clavien-Dindo, não sendo registrada outra tentativa de classificação.

DISCUSSÃO

A avaliação e o monitoramento de complicações pós-alta hospitalar em pacientes cirúrgicos têm sido realizados retrospectivamente, baseando-se em dados secundários (busca em prontuários médicos) ou por meio de retorno ambulatorial (entrevistas com pacientes e/ou reavaliação). Há poucos estudos que detalhem as principais complicações, além disso as diferenças nas abordagens utilizadas dificultam estabelecer comparações que forneceriam um adequado panorama situacional.

Ainda assim, as complicações infecciosas se destacaram no pós-hospitalar em todos os estudos selecionados(19-28), principalmente a infecção relacionada ao sitio cirúrgico (ISC)/ferida operatória (FO), com prevalência variando entre 2,5(24) e 30,8(21), e a pneumonia que variou de 3(28) a 22,5(26) em prevalência. A hemorragia pós-operatória esteve em torno de 3%(19,22,24,28), sendo que em estudo realizado com pacientes submetidos à nefrolitotomia percutânea, esse valor chegou a 12,5% dos pacientes. A ocorrência dessas complicações tem sido associada a necessidade de readmissões e/ou mortalidade elevada(19-23,25-28).

As complicações costumam variar em termos de frequência, incidência e gravidade, e esta diferença relaciona-se a uma série de variáveis intrínsecas ao paciente (idade, desnutrição, doenças pregressas, imunossupressão), bem como relacionadas ao procedimento, como a presença de afecção clínica associada, tipo de anestesia, grau de injúria e cuidados pós-operatórios(16-17,29). No entanto, percebemos, por meio desta revisão, que embora haja uma gama de complicações possíveis, aquelas de cunho infeccioso se destacam e são comuns a quase todos as cirurgias estudadas(19-28).

Trata-se de um conjunto de complicações potencialmente graves em pacientes submetidos a diversos tipos de operações cirúrgicas. Por definição, as ISC epidemiologicamente podem ocorrer nos 30 primeiros dias de pós-operatório, mas ainda se expandem para até um ano em casos de implante de próteses e órteses. Nessas infecções, as primeiras 48 horas são críticas devido à elevação do metabolismo e ao trauma cirúrgico por si só. Essa complicação costuma ser associada à elevação de temperatura sobretudo nas primeiras 72 horas pós cirurgia. A partir do terceiro dia, infecções relacionadas a cateteres vasculares, infecções incisionais e sepse são mais prevalentes, e a partir do sexto dia, elas dão lugar a complicações sépticas, causadoras de febre, e abscessos incisionais, que são associadas a repercussões mais graves e com maior possibilidade de morte.

Nossos dados ainda destacam correlação entre a presença de uma ou mais complicações e aumento na mortalidade(19-22,25-28), necessidade de reoperações(19-20,22-23,26) e pior sobrevida(26,28).

Atualmente, há a necessidade de otimização de espaços, recursos e despesas decorrentes da internação hospitalar, a qual tem significativa influência na decisão de alta dos pacientes, aliada há uma pressão socioeconômica para conceder alta institucional o mais breve possível, visando à redução das despesas hospitalares e à garantia de rotatividade dos leitos(19-21,24,26). Em decorrência desses fatores, pacientes que ainda necessitam de monitoramento clínico podem ter sua alta antecipada, devido à necessidade de liberação de leitos. Quando feita sem o rigor necessário e baseado em inconsistências clínicas, tal decisão pode expor os pacientes a níveis inadequados de cuidados, resultando em mortes inesperadas ou readmissões(21). No caso de pacientes cirúrgicos, essa assertiva vem se tornando cada vez mais válida e comum, principalmente pela alta probabilidade de complicações pós-cirúrgicas a qual esses pacientes estão expostos(30).

Fora do ambiente hospitalar, a vigilância a qual o usuário dispõe é bruscamente diminuída e, em alguns casos, é inexistente(20-21,23). A literatura evidencia que a vigilância do paciente cirúrgico, na maioria das instituições, tem ocorrido apenas durante o período de internação. Nesses casos, essas instituições tendem a não relatar o que de fato ocorre em termos de complicações, ou limitam os achados ao pós-operatório imediato. Ainda, quando a vigilância é realizada apenas na permanência hospitalar, não fornece indicadores confiáveis e pode gerar subnotificação(26,31-32).

Mesmo que as taxas de complicações entre os estudos selecionados tenham sido elevadas, a ausência de estratégias de monitoramento e gerenciamento dos egressos cirúrgicos (em termos de análise de sinais e sintomas e tempo de manifestação) é motivo de preocupação. Nesse sentido, embora o sistema de classificação de Clavien-Dindo, utilizado na maioria dos estudos(21-28), seja importante para identificação e categorização das complicações em graus de intensidade, sua aplicabilidade do ponto de vista de monitoramento e vigilância é extremamente limitada.

Os estudos evidenciam que as barreiras para a monitorização eficaz incluíam desde as percepções dos pacientes sobre as dificuldades encontradas no desenvolvimento de cuidados pós-alta até obstáculos relatados pela equipe de saúde para estabelecer um feedback adequado de informações. Assim, a ausência de monitorização, ou a sua realização de forma equivocada, pode fornecer informações com pouca credibilidade e precisão, dificultando a tomada de decisão.

O uso de tecnologias emergentes de informação e comunicação em massa para melhorar ou promover a saúde (e-Health) pode representar uma oportunidade para melhorar a identificação e gestão de complicações pós-alta(33-35). Estudos recentes apontam a importância de se investir em estratégias de monitoramento pós-alta dos pacientes, sobretudo por meio de smartphones, sendo os aplicativos com fins voltados à saúde uma inovadora e importante ferramenta tecnológica, com potencial para melhorar o acompanhamento de pacientes quanto à evolução da doença e autocuidado, coparticipação no tratamento, cuidado individualizado e redução de custos para o sistema de saúde(33-37).

Esse monitoramento deve ser feito pela equipe em saúde na qual o enfermeiro encontra-se inserido. A formação desse profissional o habilita a identificar situações de saúde-doença, subsidiando a prescrição e implementação de ações em saúde concretas na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação em saúde do indivíduo, família e comunidade, baseado na sistematização da sua assistência. Além disso, a proximidade do enfermeiro com o paciente, seja em ambiente hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, torna-o protagonista na monitorização do paciente com complicações pós-operatória.

Limitações do estudo

Esta pesquisa possui limitações relacionadas ao método adotado. Uma vez que se trata de uma revisão integrativa, os resultados se restringem a mostrar apenas um retrato da realidade atual com base nos resultados dos estudos primários. Mesmo que o intuito fosse comparar intervenções, não haviam estudos clínicos publicados nas bases de dados para subsidiar essa abordagem. Acrescenta-se que as diferentes abordagens utilizadas limitam comparações entre estudos e países(38).

Contribuições para a área

Nossos achados, de forma geral, evidenciam a importância de se investir em estratégias de monitoramento pós-alta dos pacientes, com vistas a identificar precocemente os sinais e sintomas das possíveis complicações.

CONCLUSÃO

As complicações infecciosas foram as mais prevalentes em todos os estudos selecionados, com destaque para infecção do sitio cirúrgico e pneumonia. A presença de complicações esteve ligada ao aumento na mortalidade, necessidade de reoperações e pior sobrevida. A escassez de diretrizes que guiem a vigilância das infecções no que concerne à frequência de monitoramento, tempo de seguimento e classificação, dificulta estabelecer um panorama das mesmas e consequentemente propor estratégias de intervenção.

  • FOMENTO
    Este estudo possuiu fomento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior, por bolsa do Programa de Doutorado Sanduiche (PDSE) ao pesquisador principal, sob Processo: 88881.186996/2018-01.

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Editado por

  • EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
  • EDITOR ASSOCIADO: Antonio José de Almeida Filho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    24 Jun 2019
  • Aceito
    06 Dez 2019
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