Oliveira e Romanini 21
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2020 |
RS |
6 mulheres transexuais. |
Compreender a forma como se constroem as trajetórias das pessoas transgênero nas políticas públicas de saúde em um município do interior do Rio Grande do Sul. |
As mulheres trans possuem maior aproximação com o ambulatório transexualizador. Contudo, se constrói uma relação frágil nesse ambiente, pois as usuárias se sentem constantemente avaliadas quanto à “veracidade” de sua transexualidade, tornando-se passivas no processo de produção de saúde em função da superioridade do saber médico e reprodução de protocolos invisíveis. |
O percurso das mulheres trans nas políticas públicas de saúde é pautado pela invisibilidade, acarretando a construção de linhas de cuidado que não condizem com as reais necessidades desse grupo populacional. É preciso incentivar a integração ensino-serviço, visando construir uma interlocução entre o conhecimento científico sobre transexualidade e as vivências das pessoas trans, para qualificar os trabalhadores da saúde e, consecutivamente, a atenção à saúde das mulheres trans. |
Rigolon et al. 22
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2020 |
SP |
1 travesti, 1 mulher transexual e 2 homens transexuais. |
Compreender as histórias de vida e o itinerário de travestis e transexuais nos serviços de saúde. |
Os resultados foram apresentados em dois principais temas: “gênero e sexualidade nas histórias de vida” e “as trajetórias nos serviços de saúde”. Os relatos revelam os desafios enfrentados por pessoas trans no processo de reconhecimento da identidade de gênero e os dilemas para acessarem os serviços de saúde, afastando-as dos espaços de cuidado. |
O método da História Oral pode ampliar o conhecimento acerca das necessidades e demandas de saúde de travestis e transexuais. Além disso, os resultados da pesquisa podem auxiliar profissionais e gestores da saúde na tomada de decisões e no cuidado integral a essas pessoas. |
Sousa e Iriart 23
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2018 |
BA |
10 homens transexuais. |
Compreender as necessidades e as demandas de saúde dos homens trans, considerando tratar-se de um passo primeiro para viabilizar caminhos pelos quais estratégias de cuidado possam ser pensadas. |
A transfobia, um mecanismo estrutural e institucional de violência e aversão às pessoas trans, determina as práticas de cuidado e o desenvolvimento de estratégias para atender às necessidades e demandas de saúde dos homens trans. Estas, por sua vez, são apresentadas em três categorias: “despatologização das vivências trans”, “modificações corporais” e “atendimentos ambulatoriais”. |
A transfobia influencia de maneira negativa o modo de viver dos homens trans, agudizando as suas necessidades e demandas de saúde. É necessário desenvolver estratégias intersetoriais para combater a transfobia e garantir o direito à saúde e à vida dos homens trans. |
Moraes e Silva 24
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2020 |
RN |
7 travestis. |
Identificar concepções, desejos, receios e sugestões quanto ao cuidado humanizado em saúde dirigido às pessoas travestis no âmbito da atenção primária. |
As travestis enfrentam dificuldades para acessar e usar os serviços de saúde. Para superá-las e mudar o cuidado em saúde das travestis, são apontadas algumas sugestões: capacitação dos profissionais de saúde, diálogo com o movimento social, campanhas de divulgação e aproximação com o significado da vivência de ser travesti. |
Para que a atenção primária à saúde seja um espaço acolhedor e humanizado para as travestis, é preciso primar pelo respeito e pela garantia de direitos. É preciso resgatar a promoção do cuidado, algo fundamental nas práticas de trabalho em saúde, respeitando as diferenças e exercitando o altruísmo. É urgente um trabalho efetivo de mudanças na formação dos profissionais de saúde. |
Sehnem et al. 25
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2017 |
RS |
10 enfermeiros. |
Conhecer a assistência em saúde às travestis, sob a ótica dos enfermeiros, na atenção primária. |
Surgiram duas categorias temáticas: “as fragilidades no atendimento às demandas das travestis na atenção primária à saúde” e “o acolhimento como prática integradora na atenção primária em saúde”. Os enfermeiros não se sentem preparados para acolherem as travestis e acreditam que elas não buscam as Unidades Básicas de Saúde com receio de serem constrangidas. |
As poucas ações de saúde direcionadas às travestis ocorreram de maneira isolada e fragmentada. Para superação dos desafios, recomenda-se a implementação da política de saúde LGBT no SUS, a educação permanente dos trabalhadores da saúde e o fortalecimento do acolhimento para potencializar o vínculo entre profissionais e usuárias travestis. |
Amorim e Teixeira 26
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2017 |
RJ |
5 travestis. |
Discutir o atendimento das necessidades em saúde das travestis nos serviços de saúde da atenção primária. |
Para as entrevistadas, a condição de saúde está atrelada às ações de promoção da saúde. Na busca por modificações corporais, as travestis fazem uso de hormônios femininos sem acompanhamento, acarretando o surgimento de outras demandas, como complicações cardiovasculares. Ao buscarem as Unidades Básicas de Saúde (UBS), as travestis enfrentam desrespeito ao nome social e outras violações, o que as distanciam desses serviços de saúde, aproximando-as de práticas alternativas ou clandestinas para o autocuidado. |
A atenção primária ainda é frágil para atender as necessidades e demandas de saúde das travestis. Recomenda-se implementar uma política pública de saúde que considere as especificidades de saúde das travestis para a promoção da atenção integral à saúde; incluir conteúdos sobre o cuidado às travestis nos cursos da área da saúde e desenvolver ações educativas permanentes, sobre acolhimento e humanização, aos profissionais de saúde inseridos na atenção primária. |
Sehnem et al. 27
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2017 |
RS |
10 enfermeiras(os). |
Conhecer as percepções das(os) enfermeiras(os) acerca das travestis e o preparo técnico-científico para assisti-las. |
Os dados foram apresentados em duas categorias temáticas: “travesti: significados construídos sob a ótica de enfermeiras(os)” e “(des)preparo técnico-científico: repercussões no cuidado prestado às travestis”. As(os) enfermeiras(os) desconhecem o significado de ser travesti e as políticas públicas voltadas à população LGBT, sendo um dos motivos apontados para esse desconhecimento a frágil abordagem das questões de gênero e sexualidade durante a formação acadêmica. |
Para o cuidado às travestis, é necessário repensar as políticas públicas de saúde para essa parcela da população, garantir o acesso e o acolhimento nos serviços de saúde, além de qualificar o preparo técnico-científico dos profissionais de saúde acerca das questões de gênero e sexualidade. |
Almeida et al. 28
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2018 |
RJ |
13 enfermeiros. |
Identificar a formação dos enfermeiros residentes para o cuidar qualificado de pessoas transexuais e analisar o processo de cuidar de enfermagem dessa clientela, na perspectiva do residente de enfermagem. |
Os depoimentos foram apresentados em duas categorias: “a formação do enfermeiro e o cuidar de pessoas transexuais” e “o processo do cuidar de enfermagem na perspectiva do residente”. Na visão dos residentes, a formação do profissional de enfermagem não está atenta para as particularidades das diferentes identidades de gênero, incluindo as das pessoas transexuais. Assim, o despreparo desses profissionais para prestar um atendimento qualificado, frente às necessidades das pessoas transexuais, será perpetuado. |
Evidenciou-se o despreparo dos profissionais de enfermagem para o atendimento das demandas sociais e de saúde da população transexual, justificado, sobretudo, pela ausência de conteúdos curriculares sobre transexualidade durante a formação profissional. |
Souza et al. 29
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2014 |
RS |
49 travestis. |
Apresentar os itinerários terapêuticos de travestis residentes em Santa Maria, município da região central do Rio Grande do Sul. |
Constatou-se que as travestis buscam por caminhos múltiplos para obterem cuidados com a saúde, inclusive fora dos serviços institucionalizados de saúde. Para uma melhor compreensão dos itinerários terapêuticos das travestis, os resultados do estudo foram apresentados em quatro categorias: “a trajetória da construção travesti”, “itinerário de cuidados nos espaços percorridos pelas travestis”, “o itinerário nos serviços públicos de saúde” e “o itinerário na religião afro, o batuque”. |
O estudo revelou que as travestis evitam os serviços públicos de saúde, pois quando buscam sempre são vítimas de discriminação. Tais serviços de saúde não estão preparados para atenderem as suas necessidades e demandas. Portanto, os itinerários terapêuticos das travestis de Santa Maria, Rio Grande do Sul, são constituídos por outros cenários e práticas de saúde, para além dos espaços institucionais do SUS, tais como espaços de moradia, pontos de prostituição, nos espaços públicos e nas “casas de santo”. |
Oliveira et al. 30
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2019 |
DF |
2 pessoas transexuais. |
Compreender como os movimentos sociais trans do Distrito Federal entendem o direito à saúde. |
Compreende-se que o direito à saúde está relacionado à três unidades temáticas: “direito de existir”, como a busca por direitos humanos básicos (uso e respeito do nome social); “direito à equidade”, uma vez que os serviços de saúde devem estar preparados para atenderem as necessidades específicas da população trans; e “implementação do ambulatório trans e a participação social”, evidenciando a importância do controle social para a efetivação do direito à saúde. |
A luta pelo reconhecimento das necessidades específicas da população trans e a conquista de equipamentos sociais para atender de forma satisfatória essa população, como o ambulatório trans, são iniciativas que podem proporcionar um diálogo permanente entre as pessoas trans e os profissionais de saúde para a produção do cuidado específico e qualificado, reverberando na efetivação do direito à saúde e à cidadania. |
Sevelius et al. 31
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2019 |
RJ |
36 mulheres transexuais. |
Explorar como o contexto social de estigma e transfobia afetam o acesso das mulheres trans brasileiras e suas preferências por método de prevenção de HIV e programação de cuidados guiados pelo Modelo de Afirmação de Gênero. |
Os resultados retratam a discriminação nos serviços de saúde, desde o desrespeito do nome social até a concepção prévia de que essas usuárias são pessoas que vivem com HIV. As mulheres trans possuem incertezas sobre a eficácia e o fornecimento da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), e não estão emocionalmente preparadas para encarar um possível resultado positivo para HIV. As atividades em grupo podem explorar outras questões, para além do HIV, garantindo a possibilidade de convivência entre pessoas soropositivas ou não. As entrevistadas demonstram um sentimento de confiança ao se depararem com serviços de saúde que possuem trabalhadores(as) transexuais entre a equipe. |
Os dados apoiam fortemente uma abordagem de afirmação de gênero para a saúde trans, na qual o programa de HIV para mulheres transexuais não é limitado às estratégias individuais e biomédicas, como maior ingestão de PrEP ou aumento do índice de testes. É preciso afirmar as subjetividades diversas das mulheres transexuais e dar suporte à sua autonomia, à medida que cultivam a saúde e o empoderamento, tanto para elas mesmas quanto para suas comunidades. |
Lovison et al. 32
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2019 |
SC |
4 mulheres transexuais e 1 travesti. |
Conhecer a percepção de travestis e transexuais residentes em Chapecó, Santa Catarina, acerca do acesso e assistência em saúde. |
A busca pelo atendimento nos serviços públicos de saúde não é prioridade para as entrevistadas. Elas acabam por optar pela automedicação ou arcando com os custos da assistência privada. Isso decorre dos atos discriminatórios que elas enfrentam nos referidos serviços, principalmente o desrespeito ao nome social e o desconhecimento dos profissionais de saúde sobre as políticas e programas de saúde para essa população específica. |
O acesso e assistência à saúde são limitados e fragmentados em virtude do número reduzido de profissionais e serviços de saúde que atendam as demandas gerais da população do município de Chapecó, e do despreparo do sistema municipal de saúde para atender as demandas específicas da população trans. As mulheres trans não possuem os direitos básicos atendidos, como o direito à saúde; não recebem informações sobre processos e procedimentos em saúde e são discriminadas por profissionais de saúde e demais usuários dentro dos serviços de saúde. |
Ferreira et al. 33
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2017 |
PI |
6 travestis. |
Analisar e compreender as vivências de travestis acerca da atenção à saúde no SUS em Teresina, Piauí. |
Surgiram duas categorias temáticas: “fragilidades no atendimento às travestis” e “especialização do cuidado às travestis”. A primeira categoria revela situações de preconceito nos serviços de saúde em função das mudanças corporais, gerando insegurança por parte dessa população ao recorrer aos serviços. A segunda categoria sugere que a criação de serviços específicos para travestis poderia minimizar situações de vexame. |
Evidenciou-se que há a necessidade de maior integração entre os diversos segmentos sociais e os serviços de saúde, a qualificação dos profissionais para garantir o acolhimento às travestis e a reflexão urgente sobre o caráter discriminatório dos serviços especializados implantados pelo SUS, mesmo sendo uma porta para as travestis adentrarem o sistema de saúde. |
Hanauer e Hemmi 34
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2019 |
MG |
4 homens transexuais e 3 mulheres transexuais. |
Descrever os caminhos percorridos por transexuais, visando conhecer seus itinerários na busca por atendimento às suas necessidades e demandas em saúde. |
As diferentes trajetórias apresentadas estão relacionadas ao processo de identificação como pessoa transexual e à influência das redes sociais, assim como aos serviços de saúde nesse percurso. As redes de cuidados em saúde foram reconhecidas como central na vida das pessoas trans entrevistadas, sobretudo no que diz respeito ao acesso às modificações corporais. |
A busca pela identidade de gênero desejada é atravessada por inúmeras dificuldades, como a não aceitação familiar e social e a negação do direito à saúde quando buscam os serviços do SUS. A transexualidade parece ser incompreendida por parte das pessoas do convívio social e por profissionais e gestores das redes de atenção à saúde. |
Silva et al. 35
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2014 |
RN |
12 enfermeiras (os). |
Analisar a prática e o conhecimento de enfermeiros(as) da Estratégia Saúde da Família (ESF) no tocante à assistência à população travesti. |
Os resultados do estudo são apresentados a partir de três eixos discursivos. O primeiro eixo diz respeito à construção da identidade travesti, como os(as) profissionais entrevistados(as) compreendem essa identidade de gênero e como desenvolvem práticas de enfermagem para esse grupo populacional. No segundo eixo, os(as) enfermeiros(as) revelam não terem atendido travestis na atenção primária ou não saberem identificá-las. O terceiro eixo apresenta iniciativas de alguns profissionais para melhor acolher e atender as travestis, como o respeito ao nome social. |
Os(as) enfermeiros(as) demonstraram que a prática e o conhecimento na assistência às travestis são limitados, não conseguindo identificá-las pelo gênero de escolha, julgando-as apenas por suas características físicas e aparentes. Em virtude dessa invisibilidade, realizam apenas um atendimento curativista, sem considerar as subjetividades das travestis e o respeito ao nome social, desqualificando o cuidado a esse público específico. |