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Prevalence of intestinal parasites on the populations of Botucatu, SP (Brazil)

Resumos

Procurou-se conhecer a prevalência de enteroparasitoses na população urbana do 2.° subdistrito de Botucatu, SP (Brasil) através de exames coprológicos realizados pelos métodos de FAUST, HOFFMAN e processo de tamização. A prevalência de enteroparasitoses foi relacionada com atributos da população, tais como sexo, idade, cor e com fatores ligados ao meio ambiente. O processo de amostragem empregado foi o casual simples em duplo estágio, sendo o quarteirão a unidade primária do primeiro estágio e o domicílio a unidade do segundo estágio. Os resultados mostraram que 53,76% das 895 pessoas amostradas apresentavam-se infestadas por uma ou mais espécies de parasitas intestinais. As prevalências foram as seguintes: Ancylostomidae, 17,54%; T. trichiurus, 13,63%; A. lumbricoides, 10,69%; S. stercoralis, 6,03%; E. vermicularis, 3,69%; H. nana, 1,79%; Taenia sp, 1,22%; S. mansoni, 0,22%; E. coli, 15,53%; G. lamblia, 14,07%; E. nana, 2,35%; I. bütschlii, 1,01% e E. histolytica, 0,22%.

Parasitoses intestinais; Botucatu, SP (Brasil)


A study of the prevalence of intestinal parasitosis on the population of Botucatu's 2nd Subdistrict, S. Paulo, Brazil, is presented. Passed stool was examined by using FAUST, HOFFMAN and tamization techniques. The prevalence of intestinal parasites is related to population characteristics such as sex, age, race and some environmental features. Simple random sampling technique in double stage was applied. Among 895 examined persons, 53,76% were infected by intestinal parasites. The prevalence of the various parasites were: Ancylostomydae, 17,54%; T. trichiurus, 13,63%; A. lumbricoides, 10,39%; E. vermiculares, 3,69%; H. nana, 1,79%; Taenia sp, 1,22%; E. coli, 15,53%; G. lamblia, 14,07%; E. nana, 2,35%; I. bütschlii, 1,01% and E. histolytica, 0,22%.

Intestinal diseases; Botucatu, SP (Brazil)


ARTIGO ORIGINAL

Prevalência de enteroparasitas na população urbana do 2.° subdistrito de Botucatu, SP (Brasil)

Prevalence of intestinal parasites on the populations of Botucatu, SP (Brazil)

Mauro R. de Oliveira; Maria Aparecida Barbosa; Ednir Salata; Maria Inês T. L. Sogayar; Roberto Sogayar; Fernando M. A. Corrêa

Do Departamento de Patologia (Parasitologia) da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, SP – Brasil

RESUMO

Procurou-se conhecer a prevalência de enteroparasitoses na população urbana do 2.° subdistrito de Botucatu, SP (Brasil) através de exames coprológicos realizados pelos métodos de FAUST, HOFFMAN e processo de tamização. A prevalência de enteroparasitoses foi relacionada com atributos da população, tais como sexo, idade, cor e com fatores ligados ao meio ambiente. O processo de amostragem empregado foi o casual simples em duplo estágio, sendo o quarteirão a unidade primária do primeiro estágio e o domicílio a unidade do segundo estágio. Os resultados mostraram que 53,76% das 895 pessoas amostradas apresentavam-se infestadas por uma ou mais espécies de parasitas intestinais. As prevalências foram as seguintes: Ancylostomidae, 17,54%; T. trichiurus, 13,63%; A. lumbricoides, 10,69%; S. stercoralis, 6,03%; E. vermicularis, 3,69%; H. nana, 1,79%; Taenia sp, 1,22%; S. mansoni, 0,22%; E. coli, 15,53%; G. lamblia, 14,07%; E. nana, 2,35%; I. bütschlii, 1,01% e E. histolytica, 0,22%.

Unitermos: Parasitoses intestinais (prevalência)*; Botucatu, SP (Brasil) *.

SUMMARY

A study of the prevalence of intestinal parasitosis on the population of Botucatu's 2nd Subdistrict, S. Paulo, Brazil, is presented. Passed stool was examined by using FAUST, HOFFMAN and tamization techniques. The prevalence of intestinal parasites is related to population characteristics such as sex, age, race and some environmental features. Simple random sampling technique in double stage was applied. Among 895 examined persons, 53,76% were infected by intestinal parasites. The prevalence of the various parasites were: Ancylostomydae, 17,54%; T. trichiurus, 13,63%; A. lumbricoides, 10,39%; E. vermiculares, 3,69%; H. nana, 1,79%; Taenia sp, 1,22%; E. coli, 15,53%; G. lamblia, 14,07%; E. nana, 2,35%; I. bütschlii, 1,01% and E. histolytica, 0,22%.

Uniterms: Intestinal diseases, parasitic *; Botucatu, SP (Brazil)*.

1. INTRODUÇÃO

É patente a falta de inquéritos epidemiológicos nos municípios do Estado de São Paulo. Enfatizando esta afirmação em âmbito mais amplo, GALVÃO 15 (1953) e CARVALHO6 (1970) salientam que são pouco freqüentes no Brasil pesquisas sobre enteroparasitoses realizadas com base em amostras representativas da população em geral.

Em relação ao município de Botucatu, somente dois trabalhos versam sobre parasitoses intestinais (SALATA et al. 30, 1972; GONÇALVES et al.16, 1972). Entretanto, os levantamentos feitos por esses autores limitaram-se a pequenas áreas, sendo os resultados obtidos e conclusões tiradas, válidos apenas para a população residente nessas áreas levantadas.

Tendo em vista a carência de dados de natureza epidemiológica sobre enteroparasitoses, especificamente nesse município, e dada a pouca freqüência de levantamentos desse tipo no Brasil, procuramos realizar este trabalho visando um conhecimento mais perfeito da situação. Além disso, para podermos fornecer dados aos órgãos que prestam serviços de saúde à comunidade existentes no município e, em particular, ao Centro de Saúde Escola da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu.

Procuramos conhecer na população do 2.° Subdistrito de Botucatu a prevalência de parasitoses intestinais e relacioná-la com atributos da população e do meio ambiente. A partir de inquérito, procuramos comprovar a prevalência de teníase na população local e relacioná-la com a natureza da inspeção de carnes feita pelo Serviço Veterinário no Matadouro Municipal. Desde que a população da área trabalhada, conforme pudemos constatar, adquiria carne de suínos e bovinos provenientes do referido matadouro, aventamos a hipótese de que a presença de casos positivos para Taenia sp poderia estar relacionada à falha de inspeção veterinária.

Podemos citar alguns trabalhos sobre inquéritos epidemiológicos baseados em amostras representativas da população em geral, como: MEIRA & AMARAL24 (1940) ; BASSÈRES & PANTOJA 4 (1947); MERCER 25 (1951); PESSOA & COUTINHO 27 (1952); GALVÃO15 (1953); PESSOA et al.28 (1955); MAGALHÃES et al.23 (1956); COUTINHO9,10 (1959, 1961); ARTIGAS et al.3 (1963); GOULART 17 (1964); CORREA 8 (1965); ROQUARYOL et al.29 (1965); CARVALHO6 (1970); SALATA et al.30 (1972) e GONÇALVES et al.16 (1972).

Sobre inquéritos realizados em escolas, hospitais, quartéis e Centros de Saúde, compulsamos os trabalhos de: AMARAL & LEAL1 (1943); CARDOSO & CARVALHO 5 (1944); COUTINHO et al.12 (1952); LOBO et al.20 (1952); FERREIRA & CORREA 14 (1953); CINTRA & RUGAI 7 (1955); MAGALHÃES & DUARTE 22 (1956); MAGALHÃES21 (1957); COUTINHO & FIGUEIRA 11 (1958) e GRANATO et al.18 (1961).

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Dados gerais sobre a área trabalhada

O município de Botucatu apresenta as seguintes coordenadas: 22°52'20" de latitude sul e 48°26'36" de latitude W.Gr. As altitudes variam de 775 m a 885 m acima do nível do mar. As épocas chuvosas vão de outubro a março, sendo as chuvas mais abundantes entre os meses de janeiro e março. De junho a agosto há prolongadas estiagens. As precipitações pluviométricas, segundo dados do IBGE 21 (1968) variam de 1.300 mm a 1.500 mm. A temperatura média das máximas é de 26,5°C e a das mínimas é de 14,5°C (IBGE20, 1957).

O 2.° Subdistrito de Botucatu, conhecido popularmente como "Vila dos Lavradores" ou simplesmente "bairro", ocupa aproximadamente 1/3 da área total do município que é de 1.522 Km2. A população do 2.° Subdistrito está estimada em 10.000 habitantes, constitutindo 1/4 da população urbana do município, segundo estimativa do IBGE. Esses 10.000 habitantes distribuem-se por cerca de 2.000 domicílios.

Percorrendo a área em estudo, verifica-se que a região mais central apresenta ruas pavimentadas e habitações de alvenaria, em geral bem conservadas. Em sua grande maioria, as casas dessa região são servidas por rede elétrica, rede de água e de esgoto. A região periférica apresenta poucas ruas pavimentadas. Aqui há casas de alvenaria, algumas muito bem conservadas. Porém, ao lado destas, em verdadeiro contraste, encontramos modestas casas de madeira. Nesta faixa periférica, as casas são servidas por rede elétrica e rede de água. Entretanto, algumas famílias utilizam somente a água de poço, por falta de condições financeiras para efetuar as ligações com a rede existente.

Algumas ruas desta última região não estão favorecidas por rede de esgoto. Assim, os dejetos são lançados em fossas, muitas delas mal construídas, sendo condenáveis sob o ponto de vista sanitário.

A região central do 2.° Subdistrito é totalmente beneficiada pela coleta de lixo por caminhão da Prefeitura. Entretanto, as casas da faixa periférica não recebem em sua totalidade esse benefício. Neste caso, os moradores não servidos dão destino diverso ao lixo: uns queimam, outros o usam como adubo, outros o depositam a céu aberto.

Baseados na amostragem feita, constatou-se que a maioria desses domicílios (90,47%) é de alvenaria e o restante (9,53%), de madeira. Apurou-se também que 73,71% das casas são abastecidas por água da rede pública e 63,33% são servidas por rede de esgoto.

Ainda com base na amostra, verificou-se que a população em estudo apresenta 45,59% de pessoas do sexo masculino e 54,41% do sexo feminino (Tabela 1). Constatou-se também que há na área, 85,14% de pessoas brancas e 14,86% de pessoas não brancas. A Tabela 2 mostra a distribuição, segundo o sexo, da população pelos diferentes grupos etários.

2.2. Planejamento e execução

2.2.1. Amostragem

A área em estudo foi percorrida e seus limites demarcados em mapa fornecido pela Prefeitura do município. Os quarteirões foram numerados no mapa, perfazendo um total de 302. A amostragem usada foi do tipo casual simples em duplo estágio, sendo a unidade primária do 1.° estágio o quarteirão e a do 2.° estágio o domicílio.

Para assegurar a todos os domicílios da área a mesma probabilidade de participarem da amostra, sorteamos 20% do total de quarteirões, isto é, 60 quarteirões e estabelecemos visitar os domicílios alternadamente, entrevistando todos os seus moradores.

A amostra constou de 895 pessoas que estavam distribuídas por 209 domicílios nos 60 quarteirões sorteados. A distribuição da amostra da população do 2.° Subdistrito, segundo o sexo e a cor é apresentada na Tabela 1.

A média de pessoas por domicílio foi 4,3.

2.2.2. Métodos empregados

Os métodos empregados foram os seguintes :

FAUST et al.13 (1938); HOFFMAN et al.19 (1934) e o processo de tamização, tal como descrito por AMATO NETO et al.2 (1961).

Foi feita comparação dos resultados deste trabalho com os de GALVãO 15 (1953) e COUTINHO9 (1959) que realizaram levantamentos semelhantes em zona urbana nos municípios de Araraquara e Itatiba, respectivamente. Esta comparação foi feita com base no teste X" (qui-quadrado). O nível de significância adotado foi 1% sendo 6,635 o valor de X2 crítico a esse nível e para 1 grau de liberdade.

2.2.3. Execução dos trabalhos no campo e no laboratório

Em cada domicílio visitado foi aplicado questionário que constava de perguntas referentes a seus moradores e ao meio ambiente. Após as entrevistas, eram fornecidas aos moradores, latas rotuladas para a deposição das fezes a serem examinadas. As latas tinham capacidade para o mínimo de 500 g de material pois havia necessidade de coleta de bolo fecal completo de cada indivíduo para a tamização das fezes. As latas eram entregues no período da tarde e coletadas na manhã do dia seguinte. Os exames coprológicos foram realizados no laboratório de Parasitologia da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, distante apenas 6 km da área trabalhada. Os exames eram iniciados sempre dentro da primeira hora após a coleta das latas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos exames coprológicos revelaram a presença de 13 espécies de enteroparasitas, de acordo com a Tabela 3. O resultado da comparação entre este e os trabalhos de GALVÃO e COUTINHO, encontra-se na Tabela 4. Verificou-se que a percentagem de pessoas infestadas por enteroparasitas era bastante baixa (53,76%) em relação àquela encontrada por GALVÃO15 (1953) e por COUTINHO 9 (1959), respectivamente 70,8% e 81,3% de parasitados.

Os resultados apresentados na Tabela 5 mostram a intensidade parasitária em relação ao sexo e à cor. Verificou-se que as pessoas não brancas são mais parasitadas (X2 = 18,25). Neste particular os nossos resultados coincidem com aqueles de GALVÃO15 (1953) mas não com os de COUTINHO 9 (1959) que não encontrou diferença significante entre o parasitismo em brancos e não brancos. Nossos resultados fazem supor que as condições econômicas e higiênicas mais precárias em que vivem as pessoas não brancas, falem em favor de um parasitismo mais intenso nesse grupo. Da pobreza decorre a ausência de conhecimentos sobre educação sanitária e de saneamento do meio. Daí o elevado percentual de parasitismo.

A Tabela 6 evidencia a prevalência de parasitas intestinais em relação à idade. Nota-se que o grupo etário de 15 a 19 anos é o mais atingido, com 64,84% de parasitismo. Verifica-se aumento gradativo de prevalência a partir do grupo etário de 1 a 4 anos até o grupo de 15 a 19 anos. Além dessas faixas etárias, nota-se queda da prevalência de enteroparasitas. Verifica-se também que 11,76% dos indivíduos menores de um ano encontram-se infestados, o que demonstra o parasitismo já nessas tenras idades.

Cumpre assinalar também a presença de dois casos de esquistossomose mansônica, revelados pela presença de ovos do helminto causador da doença. Porém, tratava-se de casos não autóctones pois as pessoas provinham de regiões endêmicas do Estado do Paraná.

Não foi constatada em nenhum exame a presença de cistos do flagelado Chilomastix mesnili e de oocistos de Isospora sp. Esses protozoários tem-se mostrado realmente pouco freqüentes em trabalhos desta natureza.

A Tabela 7 relaciona os resultados dos exames coprológicos com o tipo de habitação. O teste do X2 revelou diferença significante entre as pessoas que habitam os dois tipos de casas encontradas no 2.° Subdistrito de Botucatu. As pessoas que moram em casas de madeira são mais parasitadas do que as que habitam casas de alvenaria (X2 = 11,36). De modo geral, nas casas de madeira não são respeitados os preceitos de higiene devido pertencerem seus moradores a classes sociais pobres. Daí acreditar-se que a maior prevalência de enteroparasitas se deva, pelo menos em parte, a esse fato.

A Tabela 8 mostra a prevalência de parasitas intestinais em relação ao tipo de habitação. Encontrou-se 37,37% de parasitados por Ancylostomidae entre pessoas residentes em casas de madeira e 15,25% entre as residentes em casas de alvenaria. A diferença foi significante estatisticamente (X2 = 27,51). Esse atributo foi abordado porque refletindo o nível sócio-econômico das pessoas que residem em casas de madeira e de alvenaria, reflete também as condições de higiene desses indivíduos.

A Tabela 9 relaciona os resultados dos exames coprológicos com o destino do lixo. O teste do X2 revelou que nas pessoas que moram em casas onde o lixo é usado como adubo ou mesmo atirado em terrenos próximos (lixo não removido), o parasitismo é maior (X2 = 66,97).

A Tabela 10 mostra a prevalência dos parasitas intestinais em relação ao destino do lixo. Considerando os Ancylostomidae, verifica-se em relação ao atributo citado, que as pessoas moradoras em casas onde o lixo não é coletado pelo Serviço de Limpeza Pública, são mais parasitadas (X2 = 77,85). Estes resultados coincidem com os de COUTINHO 9 (1959). Analisando essa mesma situação para os helmintos T. trichiurus e A. lumbricoides e o protozoário E. coli que são os parasitas mais prevalentes, verificou-se que as diferenças estatísticas encontradas foram igualmente significantes (X2 = 23,99; X2 = 38,25, respectivamente).

A Tabela 11 relaciona os resultados dos exames coprológicos com o tipo de abastecimento de água dos domicílios. As pessoas que moram em casas abastecidas por água de poço são em geral mais parasitadas (X2 = 62,21).

A Tabela 12 mostra a prevalência de enteroparasitas em relação ao tipo de abastecimento de água dos domicílios. Considerando os protozoários mais prevalentes, isto é, E. coli e G. lamblia, encontramos maior número de pessoas parasitadas moradoras em casas abastecidas por água de poço (24,66% e 15,56%, respectivamente). Nas casas abastecidas por água da rede pública, a prevalência dessas protozooses foi 11,59% e 13,04% respectivamente para E. coli e G. lamblia. Entretanto, somente a diferença de 13,07% para E. coli mostrou-se significante estatisticamente (X2 = 24,67).

A Tabela 13 relaciona os resultados dos exames coprológicos com o destino dos dejetos. Verifica-se que o parasitismo é mais prevalente nos indivíduos que habitam casas cujas instalações sanitárias não estão ligadas à rede de esgoto (X2 = 52,21).

A Tabela 14 mostra a prevalência de parasitas intestinais em relação ao destino dos dejetos. Verifica-se que tanto os moradores que habitam casas cujas instalações sanitárias estão ligadas à rede de esgoto como aqueles cujas casas tem fosas, são igualmente parasitados pelo protozoário G. lamblia (X2 = 4,11). Entretanto, tratando-se de E. coli, a diferença estatística foi significante (X2 = 10,52), isto é, a prevalência de E. coli é maior nas pessoas que moram em casas que possuem fossas. COUTINHO 9 (1959) não encontrou diferença significante no tocante à prevalência da G. lamblia em moradores de casas com instalações sanitárias ligadas à rede de esgoto ou à fossa. Esse mesmo autor também não encontrou diferença significante em relação à prevalência de outras protozooses intestinais, entre moradores de casas com e sem ligação à rede de esgoto. Porém em relação a helmintos e especificamente no caso dos Ancylostomidae, o autor em apreço encontrou grande diferença, isto é, havia maior prevalência daqueles parasitas em moradores de casas cujos dejetos iam ter a fossas. Nossos resultados frente a este último atributo são coincidentes com os de COUTINHO 9 (1959).

A Tabela 15 relaciona os resultados dos exames coprológicos com o asseio da casa. Verifica-se que a prevalência de parasitas intestinais em pessoas moradoras em casas com "asseio bom" foi 45,34%. Para o estado "asseio mau" a prevalência foi 81,32% e para "asseio sofrível", 69,59%. Houve diferença estatisticamente significante entre os estados "asseio bom" e "asseio sofrível" e entre os estados "asseio mau" e "asseio bom" (X2 = 31,67 e X2 = 41,20, respectivamente).

A Tabela 16 relaciona a prevalência de parasitas intestinais com o asseio da casa. Considerando os Ancylostomidae, verifica-se que os moradores de casas com estados de asseio considerados "sofrível" e "mau", apresentam-se mais infestados do que aqueles dos domicílios em bom estado de asseio (X2 = 58,11 e X2 = 49,48, respectivamente). Neste particular, os resultados do presente trabalho também coincidem com os de COUTINHO 9 (1959).

Verifica-se também que a prevalência dos parasitas A. lumbricoides e T. trichiurus apresenta-se mais elevada em moradores de casas com asseio "sofrível" e asseio "mau". O mesmo ocorrendo em relação ao protozoário E. coli.

Analisando agora a prevalência de Taenia sp, verifica-se que ela se apresenta bastante baixa (1,22%). GALVÃO 15 (1953) e COUTINHO 9 (1959) verificaram igualmente baixa prevalência para o cestóide em foco, isto é, 2,5% e 0,6% respectivamente. Sendo baixa a prevalência de teníase na população do 2.° Subdistrito de Botucatu, não foi possível relacioná-la de maneira conclusiva com o padrão do Serviço de Inspeção de carnes no Matadouro Municipal. Entretanto, julgamos que uma inspeção veterinária rigorosa e o impedimento de abate clandestino das espécies animais portadoras de cisticercos, possam diminuir substancialmente a prevalência de teníase na população da área estudada.

4. CONCLUSÕES

No presente trabalho, os resultados encontrados permitem-nos concluir que:

1. A prevalência de parasitas intestinais na população da área estudada mostra-se relativamente baixa quando comparada à encontrada em outras localidades.

2. O parasitismo global é mais intenso entre pessoas não brancas, provavelmente devido às precárias condições sócio-econômicas em gue vive esse grupo.

3. A maior prevalência de enteroparasitas é verificada em moradores de casas que apresentam as seguintes características: construção de madeira, lixo não removido, água de abastecimento proveniente de poço, destino dos dejetos para fossas, estado de asseio da casa "sofrível" ou "mau". Provavelmente, tais, condições, não de forma isolada, constituem-se nos fatores mais importantes para a ocorrência das parasitoses que analisamos.

4. A prevalência de teníase na população estudada mostra-se muito baixa, e uma vez que não podemos descartar a possibilidade de consumo de carne proveniente de abate clandestino, não nos permite concluir sobre a eficácia ou não do Serviço de Inspeção Veterinária do Matadouro Municipal de Botucatu.

AGRADECIMENTOS

Aos Professores. Drs. Gil Vianna Paim e João Pessoa de Paula Carvalho, da Faculdade de Saúde Pública da USP; à Professora Dra. Cecília Magaldi e Dr. Eurivaldo Sampaio de Almeida, do Departamento de Medicina Preventiva, Social e Saúde Pública, da FCMBB; aos Professores Drs. Mário Augusto Carneiro Leão Ribeiro e Messias Carlos Galvão Comes, do Departamento de Matemática da FCMBB; aos técnicos do Laboratório de Parasitologia da FCMBB; e ao Centro de Saúde de Botucatu.

Recebido para publicação em 20/3/1974

Aprovado para publicação em 22/4/1974

Parte de monografia de mestrado apresentada à Faculdade de Saúde Pública da USP, em 1972, pelo primeiro autor do trabalho

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 1974

Histórico

  • Aceito
    22 Abr 1974
  • Recebido
    20 Mar 1974
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