Resumo
O artigo propõe um estudo analítico e a contrapelo do Ensaio sobre música brasileira de Mário de Andrade, publicado no final de 1928 e frequentemente considerado peça ideológica exemplar de rotinização de seu projeto nacionalista. Argumenta que o foco sobre a dimensão normativa acabou por cronicamente minimizar, senão eclipsar, a dimensão propriamente cognitiva do texto, obliterando as visões instrumental de nacionalismo e aberta de identidade aí formuladas ao discipliná-lo a partir do paradigma, que se tornaria hegemônico nos anos 1930, da unidade nacional e de uma cultura brasileira autêntica e homogênea. Sugere ainda que a ideia cosmopolita e descentrada de brasilidade do modernista expressa uma identidade aberta, plural e inacabada capaz de provocar o reconhecimento da cultura popular e da dignidade de seus portadores sociais.
Palavras-chave Mário de Andrade; Ensaio sobre música brasileira; nacionalismo; identidade nacional; cultura brasileira