Resumo
A individualização ganhou importância na Sociologia contemporânea como expressão de mudanças vivenciadas em países com Estado de Bem-Estar Social consolidado. Essa questão colocou em evidência transformações nas relações geracionais e de gênero. No contexto brasileiro, ela foi recepcionada com desconfiança quanto à sua validade para a compreensão das experiências de mulheres das camadas populares. Este trabalho questiona a tese de que a individualização seria uma suposta exclusividade das classes médias, o que, portanto, pressuporia uma determinação econômica para a explicação do fenômeno. Com base em pesquisa qualitativa, de amostragem intencional, com uso da dupla hermenêutica fundada na teoria de Anthony Giddens, construímos uma descrição densa de narrativas de duas mulheres negras e pobres, moradoras de Salvador, a fim de analisar quatro assuntos centrais para a individualização feminina: escolaridade, trabalho, conjugalidade e reprodução. Nossas análises demonstram que mesmo diante de ambiguidades entre a individualidade e as desigualdades estruturais e culturais do país, a individualização, sendo um processo estrutural, apresenta-se entre mulheres negras e pobres brasileiras.
Palavras-chave: Descrição densa; Geração; Interseccionalidade; Família; Salvador