Resumo
O discurso sobre “ideologia de gênero” como “arma de guerra cultural” vem sendo analisado em uma série de estudos genealógicos relativos aos processos históricos recentes que possibilitaram sua emergência. Como esses estudos mostram, trata-se de um projeto alternativo de produção do que conta como conhecimento e como verdade. Contudo, pouca ou nenhuma atenção vem sendo dada aos sentidos que a expressão assume nas teorias feministas e de gênero. Ao negar que a ideologia de gênero pode ser reduzida a um mero espantalho produzido pela agenda conservadora, proponho uma espécie de história das ideias associadas à expressão, com ênfase no trabalho da socióloga Viola Klein, cujas reflexões em sociologia do conhecimento constituem uma das primeiras explorações teóricas do tema. Ao ilustrar a pluralidade de sentidos dos estudos acadêmicos sobre ideologia de gênero, argumento que, embora por vias distintas, eles convergem numa negação radical do discurso antigênero da direita global.
Palavras-chave: Ideologia de gênero; direita global; sociologia do conhecimento; Viola Klein; agnotologia