Tendo como base entrevistas feitas com 30 mulheres e 30 homens, residentes na área metropolitana de Buenos Aires, a respeito de suas experiências de aborto, reconstroem-se trajetórias nas quais o aborto constitui um marco. Conclui-se que a ilegalidade não influi na decisão de interromper uma gravidez, mas sim nas condições diferenciais de sua prática clandestina; que os traços do aborto marcam de forma diferente mais as mulheres, em cujo corpo é praticado, do que os homens, participantes secundários do processo, embora as marcas sejam perduráveis tanto em mulheres como em homens. Do mesmo modo, mostra-se que, nas mulheres pobres, à primeira gravidez segue-se um nascimento e depois um aborto; que nas classes médias, à primeira gravidez segue-se o aborto e depois os filhos; e que a eventualidade de interromper a gravidez não se dá só em situações excepcionais, mas sim que faz parte do processo desencadeado pela suspeita de uma gravidez.
aborto; Buenos Aires; anticoncepção; trajetórias; direitos reprodutivos