Resumo
Este artigo estabelece conexões entre o objeto “ideologia de gênero”, a tecnociência e as tecnologias de sexo e gênero na recente epidemia de Zika. Para isso considera as táticas de luta contra o Aedes aegypti, centrando-se nos insetos modificados e tomando como exemplos a Colômbia, Porto Rico e Brasil. Delineia-se uma relação entre a bactéria Wolbachia e o feminismo a partir da reflexão sobre seu potencial para intervir na substância mesma da vida, desfazendo, assim, a diferença sexual e feminizando o aegypti. Deste modo, estabelece-se um campo de sentido que articula as ciências da vida, o capitalismo, a epidemia de Zika, os pernilongos e o objeto “ideologia de gênero”; neste campo, as mulheres ocupam o lugar de eternas devedoras em uma economia política da promessa, o neurotropismo do zika ameaça futuros nacionais e economias em gestação, e a Wolbachia aparece como salvadora e destruidora ao mesmo tempo.
Palavras-chave: Aedes aegypti; antropologia feminista; biotecnologia; ideologia de gênero (Colômbia); zika