Open-access RESPOSTA DO FEIJOEIRO A DOSES DE BORO EM CULTIVO DE INVERNO E DE PRIMAVERA

DRY BEAN RESPONSE TO DOSES OF BORON IN WINTER AND SPRING PLANTINGS

Resumos

Um experimento em vasos foi instalado em casa de vegetação com o objetivo de estudar a resposta do feijoeiro à aplicação de boro (B) em solo com baixa disponibilidade desse nutriente. Os tratamentos consistiram na aplicação de doses correspondentes a 0, 1, 2, 4, 8 e 16 kg.ha-1 de B, na forma de bórax. Dois ensaios foram desenvolvidos, sendo o primeiro no inverno (junho a julho) e o outro na primavera (setembro a outubro). No ensaio do inverno, foi observada a deficiência de B, apenas na testemunha, fato comprovado pela análise de tecidos. Nos demais tratamentos não apareceram sintomas de deficiência e os teores do elemento na parte aérea das plantas foram considerados adequados. No ensaio de primavera, não foi observada deficiência visual de B, mesmo na testemunha. Em ambos os ensaios, aplicações superiores a 2 kg.ha-1 de B proporcionaram teores muito elevados do elemento nas plantas (138 a 710 mg.kg-1). Os dados sugerem que a deficiência é mais relevante no inverno e que o excesso é prejudicial, em qualquer época, ocasionando toxicidade.

deficiência e excesso de boro; feijão; efeito sazonal


A greenhouse experiment was conducted to study the effect of boron in dry bean plants (Phaseolus vulgaris L.) grown in pots. The treatments consisted of 0, 1, 2, 4, 8, and 16 kg.ha-1 of boron in the form of borax. Two identical experiments were carried out during the winter (June/July) and the spring (September/October) seasons. In the winter experiment, the boron deficiency symptoms were shown only by the control plants. In those conditions, the high concentrations of Ca and Mg and the low temperatures affected the boron absorption of the plants. The application of 1 kg.ha-1 of boron was sufficient to reduce the visible symptoms of B deficiency, and increased the dry weight of the shoots. At the rate of the 2 kg.ha-1 B or above there was excess of boron in the dry matter of the shoots. In the spring experiment there was no deficiency symptoms in the plants and the boron concentration was adequate in the shoots. Also, the application of 2 kg.ha-1 of B or more increased the B concentration to excess. The results suggest that boron deficiency is relevant only in the winter and that excess of boron is a problem, causing toxicity, independent of the season.

boron deficiency; boron excess; dry beans; sazonal effect


NOTA

RESPOSTA DO FEIJOEIRO A DOSES DE BORO EM CULTIVO DE INVERNO E DE PRIMAVERA(1)

HIPÓLITO ASSUNÇÃO ANTONIO MASCARENHAS(2, 4), ROBERTO TETSUO TANAKA(2, 4), SANDRA DOS SANTOS SEVÁ NOGUEIRA(2), QUIRINO AUGUSTO DE CAMARGO CARMELLO(3) e EDMILSON JOSÉ AMBROSANO(2, 4)

RESUMO

Um experimento em vasos foi instalado em casa de vegetação com o objetivo de estudar a resposta do feijoeiro à aplicação de boro (B) em solo com baixa disponibilidade desse nutriente. Os tratamentos consistiram na aplicação de doses correspondentes a 0, 1, 2, 4, 8 e 16 kg.ha-1 de B, na forma de bórax. Dois ensaios foram desenvolvidos, sendo o primeiro no inverno (junho a julho) e o outro na primavera (setembro a outubro). No ensaio do inverno, foi observada a deficiência de B, apenas na testemunha, fato comprovado pela análise de tecidos. Nos demais tratamentos não apareceram sintomas de deficiência e os teores do elemento na parte aérea das plantas foram considerados adequados. No ensaio de primavera, não foi observada deficiência visual de B, mesmo na testemunha. Em ambos os ensaios, aplicações superiores a 2 kg.ha-1 de B proporcionaram teores muito elevados do elemento nas plantas (138 a 710 mg.kg-1). Os dados sugerem que a deficiência é mais relevante no inverno e que o excesso é prejudicial, em qualquer época, ocasionando toxicidade.

Termos de indexação: deficiência e excesso de boro, feijão, efeito sazonal.

ABSTRACT

DRY BEAN RESPONSE TO DOSES OF BORON IN WINTER AND SPRING PLANTINGS

A greenhouse experiment was conducted to study the effect of boron in dry bean plants (Phaseolus vulgaris L.) grown in pots. The treatments consisted of 0, 1, 2, 4, 8, and 16 kg.ha-1 of boron in the form of borax. Two identical experiments were carried out during the winter (June/July) and the spring (September/October) seasons. In the winter experiment, the boron deficiency symptoms were shown only by the control plants. In those conditions, the high concentrations of Ca and Mg and the low temperatures affected the boron absorption of the plants. The application of 1 kg.ha-1 of boron was sufficient to reduce the visible symptoms of B deficiency, and increased the dry weight of the shoots. At the rate of the 2 kg.ha-1 B or above there was excess of boron in the dry matter of the shoots. In the spring experiment there was no deficiency symptoms in the plants and the boron concentration was adequate in the shoots. Also, the application of 2 kg.ha-1 of B or more increased the B concentration to excess. The results suggest that boron deficiency is relevant only in the winter and that excess of boron is a problem, causing toxicity, independent of the season.

Index terms: boron deficiency, boron excess, dry beans, sazonal effect.

A deficiência de B geralmente ocorre em solos alcalinos, com elevado teor de matéria orgânica (Batey, 1971, Mascarenhas et al., 1988). A quantidade de B necessária à produção de grãos é sempre maior àquela exigida apenas ao desenvolvimento vegetativo (Marschner, 1995). Algumas culturas, como algodão, girassol e crucíferas, são responsíveis à adubação com B (Ogata et al., 1977; Carvalho, 1980; Quaggio et al.,1985). Miyasaka et al. (1966a, b) observaram respostas do feijoeiro à aplicação de uma mistura de zinco, boro, cobre e molibdênio em solos turfosos do Vale do Paraíba, mas não em solos minerais do Planalto Paulista.

Na Fazenda Rodeio, em Guaíra (SP), onde foram aplicadas 12 t.ha-1 de calcário, apareceram num campo de cultivo, em várzea sistematizada, plantas de feijoeiro com sintomas de deficiência de B, ou seja, diminuição no tamanho e amarelecimento generalizado das folhas. Diante desse levantamento, ponderou-se a necessidade de confirmar a deficiência de boro e averiguar a possível resposta à aplicação do nutriente, mediante experimento em vasos, em casa de vegetação.

O trabalho teve o objetivo de verificar a influência da estação climática durante o cultivo do feijoeiro e sua resposta às doses de boro, tendo como substrato um solo de várzea com potencialidade a apresentar sintomas de deficiência do nutriente.

A análise da amostra do solo, após a calagem, apresentou as seguintes características: pH em CaCl2 6,3; M.O. 45 g.dm-3; V 89%; P extraído com resina 18 mg.dm-3; K 1,1 mmolc.dm-3; Ca 84 mmolc.dm-3; Mg 48 mmolc.dm-3; B extraído com água quente 0,06 mg. dm-3. As amostras de solo foram retiradas da camada 0-20 cm e levadas para o Núcleo Experimental do Instituto Agronômico, em Campinas, onde foram realizados os ensaios.

O experimento foi instalado cultivando-se duas plantas em vasos de 8 kg de solo, em casa de vegetação do Centro de Plantas Graníferas do Instituto Agronômico, em delineamento experimental inteiramente casualizado, com cinco repetições. Os tratamentos consistiram nas aplicações de doses correspondentes a 0, 1, 2, 4, 8 e 16 kg.ha-1 de B, na forma de bórax.

Foram desenvolvidos dois ensaios, um no inverno (7 de junho a 8 de julho) e o outro na primavera (19 de setembro a 26 de outubro) de 1988, com o feijão, cultivar Goiano Precoce. Ao final daquelas datas, as plantas foram cortadas rente ao solo, secas em estufa a 65 °C para determinação da matéria seca, e, posteriormente, moídas e analisadas para macro- e para micronutrientes, conforme o método de Sarruge & Haag (1974).

No experimento de inverno, as plantas da testemunha não mostraram desenvolvimento vegetativo normal, após a emissão das folhas primárias, repetindo os sintomas observados no campo. As folhas tornaram-se coriáceas e espessas. As plantas permaneceram anãs, com encurtamento dos internódios e engrossamento do caule. No florescimento houve pouca formação de flores e baixos índices de pegamento. Segundo Agarwala et al. (1981), existe uma relação entre a disponibilidade de B e a produção e viabilidade do grão de pólen. Marschner (1995) relatou que o B estimula a germinação e o desenvolvimento do tubo polínico.

Avaliando-se, por meio da produção de matéria seca, nos dois cultivos, houve respostas negativas às doses aplicadas (Figura 1). O de primavera proporcionou maior acúmulo de matéria seca em vista de a temperatura ser mais favorável ao crescimento.

Figura 1.
Relações entre as doses aplicadas de B e a produção de matéria seca da parte aérea do feijoeiro cultivado na primavera (n ) e no inverno (

Os resultados das duas épocas de plantio devem estar relacionados com a variação de temperatura nos dois períodos (Quadro 1). Os altos valores de pH, com 6,3, afetaram, provavel e negativamente, a disponibilidade do B no solo testemunha, contribuindo para o pequeno desenvolvimento das plantas. Sabe-se também que a baixa temperatura de inverno, por afetar a mineralização da matéria orgânica (uma das fontes de B), diminui a sua disponibilidade. Por outro lado, na primavera, as temperaturas mais altas tornaram o B, no solo testemunha, mais disponível. Isso é confirmado pelo teor de B na matéria seca da parte aérea, que foi de 15 mg.kg-1 no inverno e 38 mg.kg-1 na primavera.


Na primavera, provavelmente ocorresse efeito de diluição de B em função das condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento das plantas (luz e temperatura), as quais propiciaram um crescimento três vezes maior do que no inverno. Os dados obtidos no trabalho sugerem que, no solo estudado, supostamente deficiente em B, a insuficiência é mais relevante, em condições ambientais de inverno.

As relações entre as concentrações de B na matéria seca da parte aérea das plantas em função das doses aplicadas do micronutriente encontram-se na Figura 2. Elas foram crescentes nos dois cultivos; entretanto, apresentaram, como principal diferença, o coeficiente quadrático ser positivo no ensaio de primavera e negativo no de inverno. Isso significa, no primeiro, que há um gradiente de acréscimo decrescente com as doses aplicadas de B, e um gradiente de acréscimo crescente no outro caso. Dessa forma, apesar de as concentrações de B das testemunhas terem, aproximadamente, valores semelhantes, entre as aplicações de 4 a 5 kg.ha-1 encontra-se a primeira maior diferença entre as duas épocas de cultivo e a segunda na dose de 16 kg.ha-1 de B. As concentrações tornam-se semelhantes novamente com a aplicação de 11 kg.ha-1 de B.

Figura 2.
Relações entre as doses aplicadas de B e as concentrações do elemento na parte aérea do feijoeiro cultivado na primavera (n ) e no inverno (

Os sintomas de deficiência apareceram apenas na testemunha do ensaio de inverno, cuja aplicação de apenas 1 kg.ha-1 de B foi suficiente para aumentar o seu teor na planta para níveis considerados adequados, havendo o desaparecimento dos sintomas de deficiência. No ensaio de primavera, a testemunha não mostrou sintomas de deficiência porque o teor de B já estava adequado às necessidades do estádio de desenvolvimento da cultura. Sintomas de toxicidade de B foram observados em doses superiores a 4 e 8 kg.ha-1, respectivamente, no ensaio de inverno e de primavera.

Segundo a literatura, a amplitude no solo que causa a deficiência e a toxicidade de B em plantas é extremamente estreita. Ns Figuras 1 e 2, observa-se que, partindo de um solo caracterizado como de baixa capacidade de suprimento do nutriente, a aplicação de pequenas doses de B foram suficientes para causar problemas de toxicidade, afetando negativamente o acúmulo de matéria seca.

As concentrações nas plantas dos demais elementos químicos determinados, aparentemente, não foram afetadas pelos tratamentos, podendo ser consideradas normais e não limitantes ao crescimento vegetativo do feijoeiro (Quadro 2).


AGRADECIMENTO

Os autores agradecem à Técnica Agrícola Ocimara Aparecida Alves, estagiária do Centro de Plantas Graníferas do IAC, a realização dos experimentos e coleta dos dados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SARRUGE, J.R. & HAAG, H.P. Análise de planta. Piracicaba, ESALQ, 1974. 57p. (Datilografado.)

(2) Centro de Plantas Graníferas, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

(3) Departamento de Química, ESALQ, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP).

(4) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.

Referências bibliográficas

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  • SARRUGE, J.R. & HAAG, H.P. Análise de planta Piracicaba, ESALQ, 1974. 57p. (Datilografado.) 
  • (1)
    Recebido para publicação em 6 de novembro de 1997 e aceito em 27 de julho de 1998.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Maio 1999
    • Data do Fascículo
      1998

    Histórico

    • Recebido
      06 Nov 1997
    • Aceito
      27 Jul 1998
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