Open-access Fatores associados à prática do binge drinking entre estudantes da área da saúde

Resumos

OBJETIVO:   identificar a prevalência do consumo de álcool e a de fatores associados ao binge drinking entre acadêmicos da saúde de uma instituição de ensino superior.

MÉTODOS:   trata-se de uma pesquisa transversal e analítica, cujo instrumento de coleta foibaseadono Alcohol Use Disorders Identification Test. A associação entre o binge drinking e demais variáveis foi investigada pela análise bivariada e Regressão Logística.

RESULTADOS:   a prevalência de uso de álcool foi de 135 estudantes (74,9%) e do binge drinking foi de 44 (15,3%). O binge drinking foi associado ao sexo masculino e ao tipo de religião. Quanto aos prejuízos para a vida acadêmica, o beber problemático esteve associado às faltas escolares, ao baixo desempenho em avaliações, ao envolvimento em brigas ou eventos fora da lei.

CONCLUSÃO:   houve alta prevalência de consumo de álcool e prejuízos relativos ao desempenho acadêmico estiveram associados ao binge drinking.

Alcoolismo; Estudantes de Ciências da Saúde; Bebedeira; População em Risco; Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool


PURPOSE:   identifying the prevalence of alcohol consumption and the factors associated with binge drinking among academics of health of a higher education institution.

METHODS:   this is a cross-sectional analytical study; whose instrument of data collection was based on the Alcohol Use Disorders Identification Test. The association between binge drinking and other variables was assessed by bivariate analysis and logistic regression.

RESULTS:   the prevalence of alcohol use was of 135 students (74,9%) and binge drinking was 44 (15,3%). The binge drinking was associated with male gender and with the type of religion. Regarding the harms to the academic life, problematic drinking was associated with school absences, low performance on assessments, and involvement in fights or events outside the law.

CONCLUSION:   there was a high prevalence of alcohol consumption and losses related to academic performance were associated with binge drinking.

Alcoholism; Students of Health Science; Binge Drinking; Population at Risk; Alcohol-Related Disorders


Introdução

O álcool é considerado uma substância psicoativa que atua no sistema nervoso central afetando o comportamento e é largamente utilizada por produzir sensações prazerosas. É amplamente consumido pelos jovens e seu consumo vem crescendo chegando a estimativa de 10 a 12% da população mundial; na população brasileira, 11% são dependentes do álcool. Também é responsável por 60% dos acidentes de trânsito e 70% das mortes violentas, cerca de 1,8 milhões de mortes no mundo (5% são de jovens entre 15 e 29 anos de idade)1 , 2. Estudos epidemiológicos identificaram que o consumo de bebidas alcoólicas, particularmente entre os jovens, é um importante problema de saúde pública por ser a toxicomania mais frequente; o uso abusivo de álcool é, portanto, reconhecido como uma doença2 - 5.

Universitários, ao ingressarem na universidade, iniciam um período crítico em que sofrem diversas transformações em suas vidas, entre elas, o acesso ao álcool e, por muitas vezes, fazem uso indiscriminado desta substância1 , 6 , 7.

Os estudantes da área da saúde constituem um grupo que merece atenção especial em relação ao uso de álcool e outras substâncias, pois serão os profissionais que, no futuro, poderão trabalhar com esta temática e, segundo estudo3 são os que mais se envolvem em abuso de álcool. Estes jovens estão, comumente, vulneráveis aos episódios de binge drinking, termo empregado para determinar o uso excessivo e episódico de álcool1 , 7 , 8. A quantidade de álcool que determina essa prática é de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião por homens ou quatro ou mais por mulheres, desconsiderando a frequência de uso9.

O consumo abusivo de álcool se associa a inúmeras consequências negativas para a saúde física e mental dos jovens e à sociedade e, em qualquer circunstância, os custos da prática do binge drinking são consideráveis em todos os aspectos - econômicos, sociais e emocionais1 , 10.

Apesar do número expressivo de publicações que relacionam diversos problemas relacionados ao uso abusivo do consumo de bebidas alcoólicas, ainda são poucos os estudos que sugerem a construção de medidas voltadas para a detecção precoce do uso nocivo do álcool11. No Brasil, há uma escassez de estudos sobre consumo de bebidas alcoólicas e prática de binge drinking. Há lacunas de estudos sobre esta temática,especialmente em instituições privadas de ensino superior, onde,supostamente, concentram-seas classes socioeconômicas mais favorecidas. Algumas pesquisas sugerem que o uso de álcool é maior neste extrato da população, mas este comportamento,até então, não foi completamente descrito1 , 8 , 10.

Considerando ser fundamental que as atividades de promoção da saúde sobre essa temática sejam desenvolvidas e fundamentadas em dados que reflitam a realidade e auxiliem na identificação de intervenções efetivas8 , 12 é que este estudo foi proposto.

O presente estudo objetivou identificar a prevalência do consumo de álcool e a de fatores associados ao binge drinking entre acadêmicos da saúde de uma instituição de ensino superior.

Métodos

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), pelo Parecer nº 2100/2010 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Trata-se de um estudo transversal e analítico, realizado na cidade de Montes Claros, localizada ao norte do Estado de Minas Gerais que possui uma população de aproximadamente 385 mil habitantes13 e representa o principal polo urbano e universitário da região.

A pesquisa foi realizada em uma instituição de ensino superior, com a participação de acadêmicos, regularmente matriculados nos cursos de graduação em Ciências Biológicas, Biomedicina, Enfermagem, Farmácia e Psicologia.

No período de coleta de dados, em 2011, os arquivos desta instituição revelavam um total de 1.267 estudantes nos referidos cursos. Foi realizada amostragem aleatória estratificada. O número de individuos determinado pelo cálculo foi de 295, considerando uma prevalênciade 50%doevento eadmitindo-se um erro de 5%.

O instrumento de coleta de dados foi constituído de perguntas fechadas com alternativas de respostas em categorias fixas e preestabelecidas, baseadas no Alcohol Use Disorders IdentificationTest (AUDIT),questionáriodesenvolvido pela Organização Mundial de Saúde comoinstrumentoderastreamentoparaclassificar o consumo de álcool14. Compunha-se, ainda, de questões sobre o perfil sociodemográfico e de outras que abordavam o prejuízo que a bebida alcoólica pode trazer para a vida acadêmica e de maneira geral. Essas questões abrangem situações de risco no trânsito, envolvimento em brigas e situações fora da lei, além da ausência e/ou baixo desempenho em atividades da Instituição de Ensino15.

EmboraoAUDITsejaumaferramentauniversalmente aceita e aplicada, não permite detalhamento sobre a quantidade e a qualidade (se destilada ou fermentada) de bebida alcoólica ingerida, e, assim, não alcança a precisão desejada quando a coleta dos dados é realizada por questionário autoaplicativo,o caso deste estudo. A partir das informações coletadas, os envolvidos no estudo foram classificados em usuários ou não e como praticantes ou não do binge drinking.

A variável dependente foi o binge drinking determinado pelo uso de cinco ou mais doses de bebida alcoólica (cerveja, vinho e/ou destilados) em uma única ocasião9, e essa variável foi dicotomizada em sim ou não. As variáveis independentes foram agrupadas em aspectos sociodemográficos e situações de risco ou eventos indesejáveis após o uso de álcool(contidas nos dois instrumentos de coleta de dados), sendo analisadas quanto à frequência e, posteriormente, categorizadas em sim e não.

As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software SPSS(r) versão 18.0 for Windows. Após análise descritiva, a associação entre o binge drinking e as variáveis independentes foi investigada por meio da análise bivariada utilizando qui-quadrado de Pearson. Nessa etapa, as variáveis com p < 0,20 foram incluídas na análise múltipla que foi feita por meio da Regressão Logística. Para a análise ajustada adotou-se um nível de significância de 95%, mantendo-se as variáveis associadas com p < 0,05 no modelo final.

Resultados

A amostra deste estudo foi composta por 295 estudantes distribuídos entre o primeiro e o décimo período dos cursos existentes na instituição. A taxa de resposta foi de 97,3% (287). A participação dos diversos cursos deu-se proporcionalmente ao número de estudantes devidamente matriculados em cada um, conforme dados apresentados na Tabela 1.

Quanto ao perfil dos estudantes, observou-se maior prevalência do sexo feminino 211(73,5%); faixa etária de 18 a 25 anos de idade 226 (79,0%); residiam com a família189 (66,0%) e se autointitularam católicos 194(67,6%).

A Tabela 1 mostra a prevalência do consumo regular de bebidas alcoólicas entre os acadêmicos. Quanto ao uso em vários dias da semana, o consumo de cerveja foi o mais frequente comparado aos destilados e ao vinho. Em relação ao consumo entre 1 e 3 vezes por semana, também a maior frequência foi para o consumo de cerveja.

Tabela 1:
Principais tipos e frequência de bebidas consumidas por estudantes dos cursos da saúde de uma instituição de ensino superior privada no norte do estado de Minas Gerais - Brasil, 2011 (n=287).

As principais situações de risco e eventos indesejáveis em que os estudantes se envolveram, após o consumo de bebida alcoólica, encontram-se na Tabela 2. Observou-se que 54dos estudantes (18,9%)dirigiram veículos após beber; 6(2,0%)se envolveram em acidentes de trânsito; 54 (18,8%) não compareceram às atividades da instituição de ensino; 24(8,4%) apresentaram baixo desempenho em avaliações acadêmicas e 32 (11,2%) envolveram-se em brigas ou eventos fora da lei.

Tabela 2:
Situações de risco ou eventos indesejáveis após o consumo de álcool entre os estudantes dos cursos da saúde de uma instituição de ensino superior privada no norte do estado de Minas Gerais - Brasil, 2011(n=287).

A Tabela 3 mostra a associação entre variáveis do perfil sociodemográfico, variáveis relativas a situações de risco e eventos indesejáveis com a prática do binge drinking. Segundo a análise bivariada observa-se que o binge drinking esteve significantemente associado ao sexo, ao tipo de religião, ao fato de dirigir após beber, ao não comparecimento às atividades da instituição de ensino, ao baixo desempenho em avaliações acadêmicas e ao envolvimento em brigas ou eventos fora da lei. Não houve associação significante entre a prática do binge drinking e as variáveis: idade, procedência, período do curso, local de residência e o envolvimento em acidentes de trânsito.

Tabela 3:
Associação entre variáveis estudadas e a prática do binge drinking entre os estudantes dos cursos da saúde de uma instituição de ensino superior privada no norte do estado de Minas Gerais - Brasil, 2011(n=287).

A Tabela 4 apresenta o modelo ajustado para os fatores associados à prática do binge drinking, entre os estudantes da área da saúde. Para essa tabela foram inseridas apenas as variáveis que permaneceram associadas (p<0,05) na análise múltipla.

Tabela 4:
Modelo ajustado dos fatores associados ao binge drinking entre os estudantes dos cursos da saúde de uma instituição de ensino superior privada no norte do estado de Minas Gerais - Brasil, 2011(n=287).

A prática do binge drinking se manteve estatisticamente associada às variáveis - sexo, tipo de religião, não comparecimento às atividades na instituição de ensino e ao envolvimento em brigas ou eventos fora da lei. Também a prática do binge drinking foi maior entre os homens; entre aqueles com outra religião; entre os que frequentemente não comparecem às atividades acadêmicas; entre os que apresentam baixo desempenho em avaliações acadêmicas e entre aqueles que referem envolvimento em brigas ou eventos fora da lei.

Discussão

Esta investigação permitiu conhecera prevalência do consumo de álcool entre os estudantes da área da saúde de uma Instituição de Ensino Superior e também mostra a prevalência e fatores associados ao binge drinking, identificando os prejuízos que esse comportamento pode representar para a vida acadêmica.

Nesse estudo 135 estudantes(74,9%) relataram fazer uso de bebida alcoólica, independente da frequência ou tipo de bebida, enquanto 25,1% afirmaram nunca ter bebido. Estudo realizado com acadêmicos da saúde de Montes Claros - MG8 mostrou que 71,5% dos estudantes ingerem bebida alcoólica, ou seja, o consumo foi ligeiramente menor que o observado na presente investigação. Por outro lado, em estudo realizado emCampinas16 identificou-se que 82,6% de uma amostra de estudantes universitários das diversas áreas já haviam consumido álcool. Outra pesquisa sobre a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas, envolvendo acadêmicos da área de Ciências Biológicas da Universidade Pública de São Paulo-USP mostrou que 84,7% desses haviam feito uso de bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses17. Também em estudo realizado entre estudantes do curso de Psicologia de Vitória, Espírito Santo, apontou que 85,07% dos entrevistados já haviam feito uso de álcool ao longo da vida18. Nos três últimos estudos apresentados observam-se índices de consumo superiores ao identificado nesta investigação.Vale ressaltar que, segundo dados do IBGE (2013), esses municípios têm Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) alto (Montes Claros-MG 0,770) e muito alto (Campinas-SP e São Paulo-SP 0,805) para as médias nacionais.

Para os alunos das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, a prática do binge drinking merece enfoque, visto que estes futuros profissionais serão responsáveis por disseminar conhecimentos e prestar cuidados para a população. Esta questão é preocupante, pois poderão se tornar dependentes em relação ao uso problemático de álcool e drogas, causando interferência na habilidade de prestar cuidado adequado aos seus clientes16.

O uso abusivo de álcool tem sido responsável por consequências adversas, como doenças cardíacas e cerebrovasculares, eventos fatais e transtornos psiquiátricos que são cada vez mais frequentes entre jovens4, principalmente entre os universitários, como evidenciado pelos estudos citados, que mostraram alto consumo da substância em todas as instituições de ensino superior investigadas. O alto índice de uso de álcool entre estudantes universitários pode estar relacionado ao ambiente permissivo das universidades. Além disso, a universidade dá aos estudantes a primeira oportunidade de ser parte de um grande grupo de pares sem supervisão familiar. Isto os torna mais vulneráveis a experiências até então proibidas e até mesmo ilícitas10.

Em relação ao beber problemático, ou seja, à prática do binge drinking, foi identificada entre 44 estudantes (15,3%), no presente estudo. Em pesquisa realizada com universitários de diversos cursos, no sul do Brasil, o beber problemático foi observado entre 67,8% dos estudantes, que afirmaram já ter consumido seis ou mais doses de álcool em uma única ocasião, sendo que os episódios de binge drinking ocorriam mensalmente entre 20% desses universitários - percentual maior que o encontrado na presente investigação. Neste estudo, a prevalência do beber episódico pesado também se mostrou inferior àquela do I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool entre Universitários, que identificou percentual que variou de 29,0% a43,7%19.

Quanto ao consumo episódico pesado em relação ao sexo, este estudo revelou que o binge drinking foi maior entre estudantes do sexo masculino (OR=3,172). Esse resultado está de acordo com o que é culturalmente esperado, sendo comum e socialmente aceito que o homem beba mais que a mulher. Em um inquérito nacional que buscou verificar o consumo de álcool e outras drogas entre universitários, no Brasil, identificou-se que os homens bebem mais e em maior quantidade que as mulheres, mas também mostrou uma tendência de aumento do consumo entre as mulheres19.Também,outra investigação com universitários de uma universidade pública de Montes Claros-MG mostrou que o binge drinking foi maior entre os homens, corroborando os achados da presente pesquisa10.

Quanto à vulnerabilidade de estudantes da área da saúde pelo uso abusivo do álcool, mesmo com maior acesso a informações, estudo20mostra que, apesar de seu dedutível conhecimento sobre os efeitos do álcool e outras drogas, consomem estas drogas em proporções semelhantes às dos jovens de mesma idade na população geral. Esses estudantes desenvolvem a convicção de que serão capazes de controlar os problemas que eventualmente possam surgir a partir do uso indevido do álcool e outras drogas21. Trata-se de uma situação crítica, porque podem se tornar profissionais dependentes ou com uso problemático de álcool, o que seguramente pode gerar problemas pessoais, profissionais e sociais.

Convém discutir que os profissionais de saúde são, frequentemente, identificados como modelos de comportamentos em relação às medidas de prevenção e promoção da saúde e podem gerar impactos negativos para as comunidades onde atuam2. Ao assumir um comportamento negligente com a própria saúde o profissional pode estimular, mesmo que de forma não intencional, a população também a assumir esse tipo de comportamento como algo adequado em relação à saúde.

É importante ressaltar que entre os diversos prejuízos do uso abusivo do álcool destaca-se a associação com outras drogas5 que, também são utilizadas de forma geral, mas são especialmente comuns entre estudantes da área da saúde; muitas vezes pela facilidade de prescrição e acesso, colaborando para o envolvimento desses estudantes em situações que oferecem risco à saúde20 , 21.

Dentre as situações de risco e prejuízos relacionados ao uso de álcool envolvendo estudantes destaca-se que esse comportamento pode prejudicar a vida acadêmica e social desses jovens. O uso de álcool pode favorecer posturas inadequadas, tais como a adoção de comportamento sexual desprotegido com maior risco de contrair Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e a gravidez não desejada7, além de maior envolvimento em brigas e problemas com a lei. Neste estudo, os estudantes apresentaram uma chance de 2,86 de se envolver em brigas ou problemas com a lei em relação à chance daqueles que não praticam o binge drinking. Situação semelhante foi observada em estudo realizado também em Montes Claros-MG, entre estudantes da área da saúde de uma Universidade Pública. Na investigação identificou-se uma chance maior do estudante que pratica o binge drinking de se envolver em brigas e problemas com a lei quando comparados aos que não adotavam essa prática8.

Quanto à relação abuso de álcool e acidentes de carro, estudos indicam que o abuso é o principal fator associado aos acidentes de trânsito, pois dificulta a tomada de decisões rápidas por causar entorpecimento das habilidades psicomotoras10 , 22 , 23. Contudo, no presente estudo, não foi possível evidenciar associação estatisticamente significante entre o binge drinking e maior envolvimento em acidentes (p=0,32). Tal situação poderia ser explicada talvez pelo baixo de número de estudantes que possuem carro próprio, contudo essa variável não investigada nesse estudo.

Observou-se, ainda, nesta investigação, que entre aqueles jovens que praticavam binge drinking, houve maior prejuízo nas atividades acadêmicas (OR=3,152) e mais ausências nas atividades da instituição de ensino (OR=4,453), demonstrando que o beber episódico e pesado pode interferir no comprometimento e rendimento acadêmico, e contribuir para a formação de profissionais menos preparados para prestar cuidados em saúde. Em estudo prévio entre estudantes da área da saúde tal associação já havia sido identificada, ou seja, verificou-se que os estudantes que praticavam o binge drinking tinham maior chance de apresentar baixo desempenho e se ausentar mais nas atividade acadêmicas8.

Por outro lado, há alguns fatores que atuam como proteção quanto ao uso do álcool e, um deles, é a integração a grupos religiosos. A literatura tem mostrado que praticantes de alguma religião utilizam menos bebidas alcoólicas e, geralmente, não praticam o binge drinking e, por conseguinte, não desenvolvem dependência à substância10 , 17 , 24. Situação semelhante foi observada nesta investigação ao verificar que a chance para praticar o binge drinkingfoi 4,3 vezes maior que aquela entre os estudantes que não possuíam religião ou não se manifestaram como católicos.

Conclusão

O estudo evidenciou alta prevalência de consumo de álcool entre estudantes da área da saúde, com destaque para os estudantes de psicologia, que apresentou maior consumo. A prática do binge drinking esteve associada ao sexo masculino e a religião não católica. Quantos aos prejuízos para a vida acadêmica o beber problemático esteve associado ao não comparecimento a atividade escolares, ao baixo desempenho em avaliações ao envolvimento em brigas ou eventos fora da lei. Tal situação evidencia a impacto negativo do uso de álcool entre estudantes da área da saúde.

Estudos com diferentes delineamentos devem ser realizados de forma a possibilitar análises mais específicas sobre o binge drinking. Pesquisas com essa abordagem além de encontrar altas prevalências de uso de álcool e ocorrência de alcoolismo, possibilitam identificar semelhanças e diferenças entre os estudantes dos diversos cursos da área da saúde em relação à ingestão de álcool.

Espera-se que os resultados deste estudo permitam a formulação de políticas públicas visando à promoção e prevenção do uso abusivo de álcool (e também de outras drogas) no âmbito acadêmico; fortaleçam os programas já existentes de apoio aos usuários de bebidas alcoólicas; estimulem a criação de espaços na universidade onde se possam discutir temáticas pertinentes ao hábito de consumir o álcool. Espera-se, ainda, incentivar o desenvolvimento de pesquisas similares em outros cursos da comunidade universitária, cada vez mais profundos, a fim de ampliar o conhecimento sobre os comportamentos dos estudantes que colocam em risco a saúde individual e coletiva ao fazer uso das bebidas alcoólicas.

Referências bibliográficas

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2015

Histórico

  • Recebido
    19 Abr 2014
  • Aceito
    06 Set 2014
location_on
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro